O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que vai sugerir, hoje, na reunião de líderes, que seja pautada, para a próxima semana, a votação em regime de urgência de um projeto de lei encaminhado ao Congresso em 2002, com o objetivo de substituir a Lei de Segurança Nacional (LSN), criada na ditadura militar.
Com a medida, a tramitação do projeto (leia Saiba mais) fica célere. Tanto Lira quanto os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, também integrante do Supremo Tribunal Federal (STF), fizeram discursos na abertura de um seminário promovido pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), que discutiu a lei.
Eles mostraram preocupação com o fato de a LSN ser usada pelo governo contra críticos do presidente Jair Bolsonaro, como foi o caso do youtuber Felipe Neto, intimado pela Polícia Civil do Rio por ter chamado o chefe do Planalto de “genocida”. Nesta semana, inclusive, o ministro Gilmar Mendes, do STF, deu cinco dias ao Ministério da Justiça para que explique a utilização da LSN.
“A Câmara e Senado estão atentos à urgência do tema, à grande relevância que ele está atendendo e causando nos momentos atuais. Mas fomos, mais uma vez, surpreendidos com a pauta da pandemia que nos assusta a todos”, afirmou Lira, frisando que apesar disso, a mudança da lei é prioridade na Casa. Pacheco, por sua vez, ressaltou a necessidade de que haja uma reação “normativa, legislativa e judicial, à luz da Constituição, para que se contenham” arroubos antidemocráticos.
Para o presidente do Senado, a aplicação e a discussão da lei vêm à tona em razão do momento vivido no país. “Quando, a pretexto da livre manifestação do pensamento, ou direito de crítica, se extrapola isso para poder pedir, por exemplo, um regime de exceção, ou a revogação da Constituição, ou o fechamento do Congresso, do STF. Essas são situações, sejam de falas, sejam de ações, que precisam ser remediadas”, frisou.
Ordenamento
De acordo com Pacheco, é preciso um ordenamento jurídico compatível com a Constituição, que seja instrumento a ser usado na defesa do Estado democrático de direito. “Não me parece que a Lei de Segurança Nacional tenha, hoje, esse condão, muito embora eu considere que não seja adequado desvalidar toda a lei enquanto não há uma substituição com uma lei mais moderna, compatível com as normas da Constituição”, destacou.
Já Barroso traçou o histórico da lei e enfatizou que o texto tem “inconstitucionalidades variadas e dispositivos que são claramente incompatíveis com a Constituição de 1988”. “Ela tem uma certa incompatibilidade de sistema; foi feita para outro mundo, outra época. É uma lei pré-queda do muro de Berlim; é uma lei da Guerra Fria e que ainda tinha preocupações completamente diversas”, ressaltou. “Os bens jurídicos que ela procurava tutelar, alguns equivocados, são bens jurídicos que já não são mais correspondentes às demandas da sociedade brasileira contemporânea.”
Saiba mais
Lei em defesa do Estado de direito
Escolhida como relatora do projeto que visa substituir a Lei de Segurança Nacional (LSN), a deputada Margarete Coelho (Progressistas-PI) afirmou que a intenção da Câmara é revogar a atual legislação, criada na ditadura militar. Segundo a parlamentar, no lugar será votada a chamada “Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito”, que pressupõe, entre outros pontos, instituir o crime de “golpe de Estado”, inexistente na legislação atual nesses termos. O novo texto terá como base um projeto apresentado, em 2002, pelo então ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior.