Desde a indicação do ministro Kássio Nunes para o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro vem sofrendo baixas políticas e perde apoio da população. O avanço da pandemia, com um número alarmante de mortos e novos infectados por dia, gera desgaste político e afasta eleitores. A indicação ao Supremo é uma das cartas do mandatário para tentar chegar com fôlego nas eleições de 2022. A indicação de um nome conservador, religioso e que, de certa forma, mantenha proximidade com o governo seria uma maneira de atrair capital político.
O Brasil tem atualmente um público de 40 milhões de evangélicos e 122 milhões de católicos. No entanto, tradicionalmente, os evangélicos têm maior envolvimento com política. Na Câmara, ao menos 101 parlamentares são ligados a igrejas. Professor de direito constitucional da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo e especialista em STF, Rubens Glezer afirma ser muito difícil prever o perfil de uma indicação de Bolsonaro, “porque ele já demonstrou que os prováveis indicados podem ser facilmente preteridos”, citando a indicação do último ministro a entrar no Supremo. O nome de Kássio não era cotado, e pegou a todos de surpresa após indicação do senador Ciro Nogueira (PP).
“Depende muito dos cálculos políticos do presidente, que podem envolver a manutenção da lealdade de alguns atores”, diz, citando os nomes de Augusto Aras e de André Mendonça. Bolsonaro, segundo o professor, pode escolher, desta vez, atender à bancada evangélica ou ao Centrão. “Tem muitas variáveis. É uma composição ampla de interesses, e sempre tem questões de conjuntura que podem influenciar”.
Aras agradou o presidente desde o início. Ele foi indicado pelo presidente para chefiar o Ministério Público mesmo estando fora de uma lista tríplice votada por procuradores e organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Um relatório da Transparência Internacional apontou que ele permanece próximo do chefe do Executivo institucionalmente. Um dos exemplos de alinhamento, de acordo com o relatório, foi o fato de Aras se manifestar a favor da concessão de foro privilegiado para o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, no esquema das rachadinhas.
Vera Chemim, especialista em Direito Constitucional e estudiosa do Supremo, concorda que o resultado anterior torna a previsão ainda mais difícil. “Eles têm feito de tudo para agradar o presidente”, comenta, afirmando que, diante do contexto, é preciso aguardar. “Bolsonaro é impulsivo, imprevisível e costuma fazer escolhas completamente polêmicas”, opina.