Seguindo a linha do bolsonarismo, o novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, defende a posse de arma de fogo ao chamado "cidadão de bem". Torres, que está há um mês no cargo, retomar o assunto que é considerado uma "pauta de costume", há um ano de meio das eleições. "Acho que é uma autodefesa", disse em entrevista ao Correio, ao defender que a população possa ter arma em casa.
Apesar de defender que este é um direito da população, não soube dizer se a medida reduziria a violência no país."Isso é um estudo que a gente realmente precisa fazer", afirmou.
Primeiro delegado da Polícia Federal a assumir o cargo, ele está há 10 anos sem atuar na atividade-fim e tem um perfil bastante político. Era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal antes de assumir o ministério e já atuou no Congresso Nacional, onde tem bom trânsito. Questionado se não cabe às forças de segurança defender a população, afirmou: "As forças de segurança não estão conseguindo cumprir".
Confira o trecho da entrevista concedida ao Correio:
Existe muita polêmica em relação à população se armar cada vez mais. Isso não lhe incomoda?
Sou totalmente a favor de o cidadão de bem poder ter o direito de ter uma arma de fogo em casa. Com toda certeza.
Por que?
Porque eu sou a favor, acho que é um direito da população. Isso é uma defesa. Eu moro em casa, por exemplo, se eu não fosse policial, faria questão de ter uma arma.
Mas não é um atestado de que não há segurança pública?
Eu acredito que não. Acho que é uma autodefesa. Vou te fazer uma pergunta dentro da sua pergunta. Vivemos num Brasil de muitos Brasis, como eu disse, gigantesco. Tem localidades, propriedades rurais que ficam a 200km, 300km de um batalhão de polícia, de uma delegacia de polícia. Como o cara vai se defender? Ele não tem direito de se defender? Tem locais que a polícia não chega, não consegue chegar, cidades gigantescas, com efetivos difíceis. O cidadão de bem tem que ter o direito de se defender, sou a favor de dar esse direito ao cidadão.
O porte de arma de fogo é diferente da posse. O porte tem que ter todo um rigor para ser concedido, agora a posse de arma de fogo tem que ser concedida àquele cidadão de bem, paga seus impostos, tem seus direitos, apresentou a papelada, cumpriu os requisitos, pode poder comprar a arma de fogo.
Mas ministro, aí tem uma briga de trânsito e o cara puxa a arma e mata um.
É a exceção fazendo a regra. A senhora está indo na exceção. Esse que puxar e fizer isso, vai ser preso, punido, condenado e vai ter uma série de problemas.
É que tem estudo que fala que o maior acesso a arma aumenta a violência.
E tem estudo que fala o contrário. A estatística não fala isso. Eu sou muito bom de estatística, eu gosto de estatística. Quem lidou comigo aqui no DF sabe disso. Eu trabalho em cima de estatística a vida inteira, ainda mais na segurança pública. É número de mortes, tal... É outra dificuldade aqui do ministério. A gente vai tentar corrigir isso aqui. Hoje o ministério não tem os números absolutos do Brasil.
Mas independentemente das estatísticas, existe uma constatação de que o Brasil é um país violento. Na medida em que a população tem mais acesso a armas, isso vai diminuir a violência no Brasil?
Não sei se vai diminuir a violência no Brasil. Isso é um estudo que a gente realmente precisa fazer, precisa analisar as estatísticas. Mas vai dar uma segurança para a vítima. O Brasil é um país violento em razão dos criminosos, e não das vítimas. É isso que eu eu estou querendo te dizer. É uma visão diferente de ver esse mesmo problema que você está dizendo. O país é violento não por causa da vítima.
Mas não cabe às forças de segurança combater os criminosos, e não o cidadão?
Cabe. Mas o Brasil não é um país violento? As forças de segurança não estão conseguindo cumprir… Apesar de que tem outro detalhe: ‘crime zero’ também não existe em lugar nenhum do mundo. O crime faz parte da história da humanidade, das relações humanas. Esqueça que nós vamos ter ‘crime zero’. Mas o que está se discutindo é: poder ou não poder ter uma arma de fogo. E eu acho que o cidadão de bem tem que poder.
O senhor saberia indicar um exemplo de um país que trata essa questão de uma forma correta?
Não sei.
EUA, por exemplo?
Os EUA têm uma liberalidade muito grande no acesso a armas de fogo, mas não vivi lá, estive lá uma vez só, não sei te dizer se funciona, se não funciona. Acho que isso aí você precisa de um dia a dia, precisa estudar, analisar, e eu não tenho esse estudo, não tem como eu te dizer.
Se não existe um estudo, se ainda precisa ser estudado, não seria arriscar demais fazer isso sem ter certeza de qual será o resultado?
Volto a te dizer: nós estamos discutindo um direito do cidadão e eu acho que o cidadão tem que ter esse direito.
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