Analistas políticos consultados pelo Correio avaliam que o Palácio do Planalto já começou perdendo na CPI da Covid instalada nesta terça-feira, no Senado Federal. Durante todo o dia, governistas tentaram minar o avanço da comissão, com ações que culminaram numa tentativa de ‘ganhar no grito’. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), por exemplo, chegou a chamar de “ingrato” o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), eleito com apoio do presidente Jair Bolsonaro. A estratégia não impediu, no entanto, que o governo assistisse hoje a uma derrota fragorosa no Senado Federal.
A derrota começou antes da instalação da CPI, quando o governo tentou retirar assinaturas, mas sem sucesso. A situação desfavorável seguiu no momento de escolha dos integrantes: os partidos indicaram os senadores que irão integrar a comissão, e dos 11 indicados, apenas quatro são alinhados ao Palácio. Com isso, as derrotas do governo seguiram, quando não conseguiu eleger como presidente da CPI o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), tendo sido Omar Aziz (PSD-AM) o escolhido por oito membros. Ele, por sua vez, escolheu Renan Calheiros (MDB-AL) como relator, sendo mais uma derrota ao Planalto.
Analista político da Consultoria Dharma, Creomar de Souza afirma que, ante o fracasso imiente, a alternativa foi “fazer barulho”. “Criaram uma dinâmica de tumulto. Mas o que vai definir a capacidade da CPI de criar um estrago no governo é a criação de fatos que alimentem a CPI”, diz.
Nesse aspecto, a Casa Civil criou um fato ao enviar a ministérios uma lista com 23 acusações contra o governo no combate à pandemia para que as pastas respondessem. Há, ainda, os depoimentos dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, em especial o primeiro, que se tornou um adversário político de Bolsonaro.
Para Creomar de Souza, o agravamento da pandemia é um fator adicional a influenciar os senadores. O cientista também ressalta que a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) atrapalhou ainda mais o Palácio ao tentar impedir judicialmente a escolha do senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator. “A ação da Zambelli explodiu quaisquer pontes que poderiam estar sendo construídas”, disse.
Sócio da Hold Assessoria Legislativa, o cientista político André César afirma que a escolha de políticos experientes, como o próprio Renan, Humberto Costa (PT-PE) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), para compor a CPI mostra a importância que os partidos estão dando à comissão. Para ele, a configuração da CPI mostra que a iniciativa do Legislativo não será do tipo que “termine em pizza”.
Analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis avalia que para se proteger, o presidente Jair Bolsonaro deve tentar atacar a CPI usando as redes sociais. “Com certeza (o resultado da CPI) vai embasar processos, representações. Nem o Aras (procurador-geral da República) vai conseguir segurar”, afirma.
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