CPI da Covid

Voto de Ciro Nogueira em Omar Aziz é considerado ‘cálculo político’

Analistas avaliam a decisão do senador, aliado do Planalto, de escolher integrante do bloco independente para a presidência da CPI da Covid. Segundo eles, o presidente do PP e figura importante do Centrão busca construir pontes ao invés de gerar mais desgastes ao governo

Sarah Teófilo
postado em 27/04/2021 20:47 / atualizado em 27/04/2021 21:48
 (crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid para apurar ações e omissões do governo federal no âmbito da pandemia, foi mais um dia de derrota ao Palácio do Planalto. Na situação já desgastante ao governo, um fato surpreendeu: o voto do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP e aliado do presidente Jair Bolsonaro, em Omar Aziz (PSD-AM) para presidir a comissão, e não em Eduardo Girão (Podemos-CE).

Houve quem viu o fato como “traição”. Analistas políticos consultados pelo Correio, entretanto, pontuam que a situação não passou de um ‘cálculo político’ de Nogueira. A eleição de Aziz já era esperada, pois, dos 11 membros da CPI, somente quatro são alinhados ao governo. Sete são de oposição ou com perfil mais independente. “É a tentativa de manter alguma ponte nesse oceano de tensões que será a CPI”, afirma Melillo Dinis, analista político do portal Inteligência Política.

É preciso acrescentar nesse cálculo o desgaste que já havia sido gerado pela deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP). A parlamentar recorreu à Justiça para tentar evitar que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) fosse relator na CPI. Dinis considerou desastrosa a ação de Zambelli. “Acabou jogando as poucas pontes que existiam no fogo. Se foi combinado com o presidente, é suicídio político. Se não foi combinado, não precisa de oposição, basta a Zambelli”, critica.

Canal de interlocução

Analista político da Consultoria Dharma, Creomar de Souza ressalta que Ciro preferiu preservar a boa relação que mantém com a maioria dos pares. “Acho que o voto foi para dar robustez à presidência de Omar. Ele percebeu que não valia a pena gerar rusgas e rachar ainda mais a CPI. Isso dá a ele possibilidade de mostrar que tem boa vontade e deixa um canal possível de interlocução. Agora, o problema é: não adianta o Ciro fazer esse tipo de movimento sozinho, quando o resto da base do governo corre desarticulada”, diz.

Sócio da Hold Assessoria Legislativa, o cientista político André César pontua que Nogueira é um político pragmático. Para ele, a ação do senador pode ser uma dupla jogada: pode ter buscado manter uma ponte com o presidente da CPI, tentando reduzir os danos ao governo, ao mesmo tempo em que tenta construir uma proteção em torno de si, calculando uma derrota do governo. “O Centrão não é, ele está. Ele (Ciro) sabe que não vai terminar bem, mas também não pode matar a galinha dos ovos de ouro”, analisa.

Para ele, a ação de Zambelli foi um “tiro na cabeça” do governo. “Mais um fato que está na ‘caderneta’ do Renan”, comentou, dizendo que o governo o tratou como inimigo. Creomar de Souza também frisou que a deputada atrapalhou ainda mais o Palácio. “A ação da Zambelli explodiu quaisquer pontes que poderiam estar sendo construídas”, observou.

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