Durante a instalação, ontem, da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, que vai apurar ações e omissões do governo federal na pandemia, aliados do Planalto tentaram, sem sucesso, postergar o início dos trabalhos. Entre outros argumentos, senadores como os líderes do governo na Casa, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), citaram o risco de os participantes do colegiado serem infectados pelo novo coronavírus.
A tropa de choque do governo é formada também pelos senadores Plínio Valério (PSDB-AM), Ciro Nogueira (PP-PI), Eduardo Girão (Podemos-CE), Omar Aziz (PSD-AM), Nelsino Trad (PSD-MS) e Fernando Collor (PROS-AL), entre outros.
Eduardo Gomes afirmou, na sessão, que não só o funcionamento da CPI da Covid, mas de qualquer outra atividade presencial no Senado deve ocorrer apenas se os participantes estiverem vacinados contra a covid-19. Ele enfatizou que, diferentemente do Brasil, vários países adotaram como primeira providência a imunização dos respectivos parlamentos e tribunais.
O líder do governo no Congresso lembrou dos três senadores mortos pela doença e de vários funcionários da Casa que perderam a vida. Segundo Gomes, “não dá para negociar, neste momento, qualquer possibilidade, em sendo presencial, do funcionamento desta CPI ou de qualquer outra, que a gente tenha um ambiente de trabalho para funcionários terceirizados, jornalistas, qualquer pessoa que precise trabalhar num ambiente de Câmara, de plenário, que tenha a sua segurança preservada, já que até a questão do grupo de risco nós perdemos completamente a referência”.
Eduardo Gomes acrescentou que “enquanto não tivermos condição de funcionar com pessoas imunizadas em qualquer categoria, qualquer profissional, a CPI não possa funcionar nessa condição”.
Já Plínio Valério defendeu que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), descumprisse a ordem de instalação do colegiado, proferida pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele disse que, antes da CPI da Covid, deveria ser instalada a que ele propôs, em março do ano passado, para investigar a atuação de ONGs na Amazônia.
“Com o Senado obedecendo à ordem monocrática do ministro Barroso, eu me sinto no direito de pedir que o senhor, presidente, que tem à mesa o meu requerimento, instale a CPI destinada a investigar as ONGs na Amazônia, posto que está na frente desta há um ano e um mês”, disse Valério. O parlamentar acrescentou que não vai recorrer ao Supremo para fazer valer sua vontade, por não reconhecer na Corte “legitimidade para mandar no Senado Federal”.
Os parlamentares governistas também argumentaram ser necessário que a CPI investigue, além das ações federais na pandemia, indícios de irregularidades na aplicação de recursos da União repassados para governos estaduais, distrital e municipais enfrentarem a pandemia.
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Bolsonaro se irrita com apoiadores
O presidente Jair Bolsonaro irritou-se com apoiadores, ontem, ao tentar conversar sobre o episódio da ligação telefônica entre ele e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO). O mandatário tentou contar a sua versão sobre a declaração feita pelo parlamentar de que ele não teria recebido o presidente da Pfizer, em agosto de 2020, para firmar contratos de importação de vacinas contra a covid-19.
No momento em que Bolsonaro falava, uma mulher que estava em chamada de vídeo com a mãe o interrompeu para que ele a cumprimentasse. Insatisfeito com o comportamento da apoiadora, o presidente se despediu dos eleitores sem completar o raciocínio. “Só aproveitar um pouquinho o momento aqui. Eu sou acusado de quase tudo. Inclusive, ontem (segunda-feira), aconteceu uma coisa muito bacana. Posso falar? O senador Kajuru falou que eu dei um chá de cadeira de 10 horas no presidente da Pfizer e falou que um ex-ministro ia...”, disse o presidente, antes de deixar o local e seguir para o Planalto.
Antes de abordar o caso de Kajuru, Bolsonaro também se mostrou incomodado pelas críticas que vem recebendo diante do recrudescimento da pandemia. “O pessoal vem reclamando que acabou emprego. Quem fechou o comércio não fui eu, quem te obrigou a ficar em casa não fui eu. E eu faço a minha parte. Impressionante. O pessoal, em vez de dar força para mim, critica. Não sou ditador do Brasil”, disparou.
Um homem que conversou com Bolsonaro pediu que ele interviesse em estados e municípios para evitar a adoção de medidas restritivas, como fechamento do comércio e toque de recolher. O presidente disse não poder fazer nada. “Quem deu poderes para estados e municípios fazer o que estão fazendo, inclusive, ignorando a Constituição? Quem foi que deu esse poder?”, afirmou. “Quando indicavam ministro do Supremo, ninguém falava nada. Quando indicavam autoridades para tudo quanto era lugar, ninguém falava nada. Agora, cobram tudo de mim”.
Relato do senador
O senador Jorge Kajuru disse, na segunda-feira, haver “fatos que a imprensa vai tomar conhecimento, fatos terríveis” sobre a atuação do presidente Jair Bolsonaro na pandemia. “O presidente da Pfizer veio conversar com ele aqui no Brasil e ficou das 8h às 18h esperando. No final, recebeu a informação de que não iria atendê-lo, em agosto do ano passado”, contou. De acordo com Kajuru, a informação foi repassada a ele por um ex-ministro que vai depor na CPI da Covid. A assessoria de imprensa da Pfizer negou a informação. O Planalto não se pronunciou.