A Executiva Nacional do Cidadania decidiu, ontem, convidar o senador Jorge Kajuru (GO) a se retirar do partido, caso contrário, será aberto um processo de expulsão dele da legenda. A sigla considerou que o parlamentar foi “subserviente” ao presidente Jair Bolsonaro na conversa que os dois mantiveram no último sábado, que foi gravada e divulgada pelo parlamentar em suas redes sociais. Na ocasião, o chefe do Executivo orientou Kajuru a operar para direcionar os trabalhos da CPI da Covid de forma que as investigações não o prejudiquem, além de ataques coordenados ao Supremo Tribunal Federal (STF). Kajuru não contesta as orientações do presidente. Ao contrário, concorda com todas elas.
O Cidadania optou por primeiro convidar o senador a se retirar por entender que é possível evitar maiores constrangimentos nesse processo. Interlocutores da legenda dizem que essa decisão já poderia ser tomada há mais tempo, uma vez que o Cidadania está na oposição a Bolsonaro, e Kajuru se comporta como um aliado. Mas que agora o “copo encheu”. Além disso, um processo de expulsão é bem mais demorado, porque envolve passar pelo conselho de ética da legenda.
O fato de Kajuru ter gravado o telefonema não foi considerado pelos integrantes da Executiva como agravante, mas, sim, o teor da conversa com Bolsonaro. Para o Cidadania, Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao tentar interferir nos trabalhos de uma CPI.
Kajuru afirmou que já tinha entrado com um pedido de desfiliação ontem mesmo, antes de o partido decidir convidá-lo a sair. O senador disse que não tinha feito isso antes por conta dos colegas de bancada Alessandro Vieira (SE) e Eliziane Gama (MA). O goiano pretende se filiar ao Podemos.
Magoado
Também ontem, ao Correio, Kajuru frisou que não pretende mais conversar com Bolsonaro, se dizendo decepcionado com ele. A apoiadores, o presidente criticou o parlamentar por divulgar a gravação (leia reportagem nesta página). De acordo com o senador, o chefe do Planalto sabia que ele tornaria público o áudio. “Não tenho mais nada para conversar com ele. Quero distância oceânica dele. Eu me decepcionei”, ressaltou.
Kajuru destacou que divulgou a gravação porque, segundo argumentou, ninguém acreditaria se ele apenas dissesse que Bolsonaro é favorável a uma CPI para investigar não só o Executivo, mas os governadores e prefeitos. “Pensei que para ele, politicamente, seria uma gravação positiva perante a sociedade e os senadores, porque ninguém mais ia falar que ele era contra a CPI”, ressaltou. “Acho que ele foi chamado a atenção por alguém, porque, se tivesse ficado chateado, teria dado entrevista ontem (domingo)”, rebateu. (Com Agência Estado)
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Bolsonaro critica senador por gravação
O presidente Jair Bolsonaro criticou, ontem, a divulgação, pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), da gravação de uma conversa telefônica entre os dois, ocorrida no sábado. A apoiadores, o mandatário afirmou que há mais informações debatidas no diálogo que não foram divulgadas e que o parlamentar pode publicar tudo.
No último domingo, Kajuru divulgou em suas redes sociais um áudio no qual Bolsonaro o pressiona a incluir governadores e prefeitos como alvos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, destinada, originalmente, a apurar a atuação do governo federal na pandemia. O chefe do Executivo também orienta o político a pedir que o Supremo Tribunal Federal (STF) determine que o Senado inicie a tramitação de pedidos de impeachment contra membros do próprio tribunal.
A apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro criticou o fato de ter sido gravado pelo senador goiano. “O dia que eu fui gravado numa conversa telefônica, tá certo? Olha que ponto que chegamos no Brasil”, disse. Em seguida, quando um apoiador afirmou que a ação foi uma “sacanagem”, o presidente afirmou: “Não é vazar, é te gravar. A gravação, só com autorização judicial. Agora, gravar o presidente e divulgar? E outra: só para controle, falei mais coisas naquela conversa lá. Pode divulgar tudo da minha parte, tá?”
Durante a conversa telefônica com Kajuru, Bolsonaro também aventou a possibilidade de agredir fisicamente o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento da CPI da Covid. A declaração ocorreu após o presidente ouvir Kajuru dizer que, “se a CPI for revanchista”, contra o governo federal, ele não ia participar. “Se você não participa, daí a canalhada lá do Randolfe Rodrigues vai participar. E vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desse”, respondeu o chefe do Executivo. Esse novo trecho da conversa foi divulgado por Kajuru durante entrevista à Rádio Bandeirantes.
Randolfe Rodrigues rebateu Bolsonaro: “A única briga que temos de estar preocupados, a esta altura, é por vacina no braço e comida no prato. (…) A violência é uma arma que só interessa, a esta altura, aos covardes. Aos homens públicos, principalmente neste momento, não interessa ficar envolvido em briga de rua”. (Jorge Vasconcellos, Luiz Calcagno, Sarah Teófilo)
Marco Aurélio vê desvio de foco
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou como um “arroubo de retórica” e uma “tentativa de desviar o foco” as pressões do presidente Jair Bolsonaro, feitas durante telefonema com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), para que o Senado dê encaminhamento a pedidos de impeachment contra magistrados da Corte. “Eu atribuo tudo a um arroubo de retórica e uma tentativa de desviar o foco. Não há por que fazer críticas ácidas ao Supremo, a integrantes do Supremo. A crítica construtiva é bem-vinda, mas esse tipo de crítica, sob o ângulo político, não. Atribuímos a arroubo de retórica, e me preocupa muito a fragilização das instituições pátrias”, enfatizou Marco Aurélio.