As mudanças no ministério da Defesa e na cúpula das Forças Armadas mostraram, de forma abrupta e tensa, a intenção do presidente Jair Bolsonaro de mostrar que tem voz de comando na caserna. O desfecho da crise militar revelou, no entanto, que as Forças devem obediência, em primeiro lugar, à Constituição, e não aos desígnios do mandatário de ocasião. Esse choque de autoridades obrigou o general Fernando Azevedo a escrever, antes de deixar o comando da Defesa, que preservou “as Forças Armadas como instituições de Estado”. Coube ao general Braga Netto, até então chefe da Casa Civil, a tarefa de serenar os ânimos e reordenar a casa. Nos últimos dias, cresceu a expectativa sobre a postura do novo titular da Defesa após o embate mais grave ocorrido entre o Palácio do Planalto e os comandos militares.
Diferentemente do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que considerava sua relação com o presidente nos termos “um manda, o outro obedece”, Azevedo tinha uma postura mais independente. Ainda que ocupante de um cargo político, evitava se manifestar em questões marcadas pela politização. Mantinha um posicionamento mais discreto em relação às polêmicas criadas pelo presidente. A estratégia funcionou até o início desta semana. Na crise que culminou na demissão de Azevedo, Bolsonaro convocou outro general-ministro — Braga Netto, considerado figura mais próxima do presidente — para substituir Azevedo na Defesa.
Professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart afirma que a atuação de Braga Netto pode ser vista pelo critério de obediência estrita aos desígnios do Planalto. “Pazuello é um protagonista interessante, é muito significativo do padrão de governabilidade do Bolsonaro”, explica. Segundo ela, na gestão do presidente, os ministros são “meras correias de transmissão da vontade” do presidente da República. Esse princípio, por sinal, não se aplicou somente na troca da cúpula militar. Em questão de horas, Bolsonaro alterou a composição de seis ministérios, entre demissões e remanejamentos.
Para Mayra Goulart, existe um perfil de ministro que se adequa ao estilo bolsonarista de governar. “Quanto menos identidade própria, mais é valorizado como perfil para escolha do Bolsonaro. Braga Netto se enquadra nessa lógica de submissão, de correia de transmissão”, diz. De acordo com ela, a indicação de Braga Netto indica que Bolsonaro não pretende se aproximar de militares, dialogar com os diferentes poderes ou construir uma base de apoio; ele está interessado em impor a autoridade presidencial, sem nuances ou contrapartidas. “O tipo de aproximação dele com os setores da sociedade e com as elites políticas é sempre tentando impor uma ascendência. Sempre foi esse o padrão, desde o início”, avalia a cientista política.
Sem interferência
Na avaliação de um general ouvido reservadamente pelo Correio, Braga Netto, embora seja influente nas Forças Armadas, tem atuação política. Apesar da característica do novo ministro, há a convicção de que qualquer tentativa de interferência política será barrada nos comandos, ou será rechaçada publicamente.
Militares que atuam no meio político descartam a possibilidade de Braga Netto promover mudanças radicais no Ministério da Defesa ou de ele ser totalmente submisso a Bolsonaro. A avaliação é de que houve apenas uma passagem de bastão do ex-ministro Fernando Azevedo para o atual chefe da pasta, e que o trabalho do ministério e do Exército, Marinha e Aeronáutica continuará da forma como está.
“Normalmente, as Forças trabalham com um plano diretor. Cada um deles tem um projeto estratégico e, mesmo quando existe a troca de um comandante, esse projeto tem que continuar. Portanto, não existem motivos para preocupação. Nós (militares), sejam comandantes, generais ou os demais, temos todos o mesmo alinhamento de pensamento. As Forças são uma estrutura de Estado, e não de um contexto político”, afirma o deputado General Peternelli (PSL-SP).
Na avaliação do parlamentar, Braga Netto já demonstrou que não tem interesse em adotar um comportamento autoritário dentro do governo. “Anteriormente, como ministro da Casa Civil, a função dele era fazer com que os ministérios tivessem união, além de coordenar atividades para que o Estado brasileiro. Não se tratava de política partidária. Por isso, com ele à frente da Defesa, não creio em mudanças”, opina.
O deputado federal Coronel Armando (PSL-SC), ex-vice-líder do governo na Câmara, afirma que a mudança foi apenas para reoxigenar a pasta. “As Forças Armadas atuam sempre dentro desse parâmetro de legalidade e legitimidade, e não serem fator de instabilidade democrática”, diz.
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