O mercado não viu com temor as mudanças relativas ao Ministério da Defesa e às Forças Armadas, e segue em stand by, aguardando mais informações, segundo analistas do mercado financeiro. No meio político, as alterações foram vistas com preocupação, apontando para a possibilidade de uso político das Forças Armadas por parte do presidente Jair Bolsonaro. Ao comunicar sua saída, por exemplo, o ex-ministro das Defesa general Azevedo e Silva fez questão de afirmar que preservou "as Forças Armadas como instituições de Estado".
A reação do mercado, na verdade, foi positiva, em especial, em relação à entrada da deputada Flávia Arruda (PL-DF) no Palácio do Planalto, ocupando cargo de ministra-chefe da Secretaria de Governo, o que significa um alinhamento maior entre o Executivo e o Centrão para a aprovação de pautas importantes.
Economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito explicou que o mercado não observou como relevante as mudanças no âmbito dos militares, mas viu com bons olhos a ida de Flávia para o Planalto. "Não foi visto com muita apreensão, porque o mercado acha que a hipótese de qualquer ação mais autoritária é tão remota que não entra nas considerações de curto prazo. E o mercado olhou o que interessa mais a curto prazo, que é a aproximação com o Centrão e de como isso pode auxiliar o Palácio na construção de uma agenda política mais coerente", disse.
Professor do curso de economia do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) e consultor de investimentos, Renan Sujii pontuou que a notícia relacionada à saída do ministro e dos comandos das Forças Armadas gerou um aumento da percepção da crise política, com um maior receio em relação à avaliação do investidor estrangeiro. Entretanto, assim como Perfeito, o professor pontuou que a reação do mercado foi positiva e, em relação à ida de Flávia Arruda para a Secretaria do Governo, com a impressão de que isso pode traduzir governabilidade, ajudando na agenda econômica do Planalto.
Segundo Sujii, não houve alteração negativa no preço dos ativos, com o dólar com pouca variação, porque o mercado entende que o país tem instituições fortes (Congresso e Supremo Tribunal Federal). De acordo com ele, agora é preciso aguardar os novos comandantes das Forças Armadas e quais as mensagens eles vão passar. "Não existe uma percepção de crise profunda, porque o mercado acredita que as instituições que compõem o país são fortes e estão funcionando. Mas o quadro pode mudar rapidamente", destacou, afirmando que o mercado olhou os fatores positivos da mudança promovida por Bolsonaro nos ministérios.
Economista do banco BV, Roberto Padovani ressaltou que o mercado segue aguardando mais informações sobre as trocas. Enquanto isso, a avaliação mais genérica e de que grandes mudanças institucionais só ocorrem quando há apoio majoritário da população; quando a população quer uma ruptura, o que não é o caso no momento. "O mercado só vai trabalhar com cenário de ruptura institucional quando houver apoio da população, e as pesquisas mostram que não há. Há um ambiente de ruídos, discursos políticos, mas, para o mercado, você precisa de mais informações para trabalhar com algo concreto", frisou.