Considerado persona non grata no Senado e apontado como responsável ou cúmplice de diversos episódios lamentáveis da diplomacia brasileira, Ernesto Araújo encerra passagem melancólica na chefia do Ministério das Relações Exteriores. Em um de suas passagens de triste memória, o ex-chanceler disse que se a atual política externa fazia do Brasil um pária, “que sejamos esse pária”. “É bom ser pária. Esse pária aqui, esse Brasil”, continuou.
Ontem, em carta entregue ao presidente, Ernesto disse que deixou a pasta porque, nos últimos dias, “ergueu-se contra mim uma narrativa falsa e hipócrita, a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros, segundo a qual minha atuação prejudicaria a obtenção de vacinas”. “Exibi todos os fatos que desmentem tais alegações, mas infelizmente, neste momento da vida nacional, a verdade não importa para as correntes que querem de volta o poder — esse poder que, durante as décadas em que o exerceram, só trouxe ao Brasil atraso, corrupção e desgraça”, reclamou o chanceler.
Assessor especial do presidente Jair Bolsonaro, o diplomata Carlos Alberto Franco França foi escolhido para substituir Araújo. Em um primeiro momento, o nome do embaixador agrada às classes diplomática e política, em razão do perfil moderado. Entretanto, França terá de mostrar competência. Assim como Ernesto Araújo, nunca chefiou uma representação do Brasil no exterior.
França desbancou favoritos ao cargo de Ernesto, como o do embaixador do Brasil em Paris, o diplomata Luís Fernando Serra, que iniciou sua carreira em 1972. Além da representação na França, Serra foi embaixador do Brasil na Coreia do Sul, em Singapura, em Burkina Faso e em Gana, além de já ter ocupado cargos nas embaixadas brasileiras na Alemanha, na Rússia, no Vaticano, na Tunísia e no Chile.