CRISE

Relembre as polêmicas do ex-ministro Ernesto Araújo à frente do Itamaraty

Diplomatas anunciaram o pedido de demissão nesta segunda-feira (29/03), o ministro estava enfrentando fortes pressões no cargo

Nesta segunda-feira (29/3), Ernesto Araújo anunciou a demissão do cargo de ministro das Relações Exteriores que ocupava no Itamaraty. A decisão ocorreu após o pedido do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).

O chanceler era alvo de pressões nas duas Casas que compõem o poder Legislativo. Durante sua trajetória, esteve envolvido nas mais diversas controvérsias, que impactaram diretamente na decisão de saída do cargo. As principais questões envolviam a pandemia e as crises no cenário internacional.

Impactos na conjuntura
Para o cientista político Marco Meneses, o legado do ministro Ernesto Araújo é apontado como pouco construtivo no aspecto da política externa.

“Uma política externa não poderia se sustentar somente nos interesses dos ocupantes dos cargos do Executivo, pois deve ser, acima de tudo, uma política de Estado. O que Araújo realizou foi de uma grande insensatez, tendo em vista que trouxe prejuízos a posições e estratégias do Estado Brasileiro”, comenta.

Felipe Loureiro, coordenador do curso de graduação em relações internacionais da Universidade de São Paulo (USP) destaca como simbólica a recente saída do ministro, visto que o chanceler tinha um importante papel como representante da ideologia do governo.

“A saída do ministro impacta muito na esfera do governo federal. Pois ele tinha um papel de peso para o movimento político do governo Bolsonaro. O impacto será ainda maior nas relações internacionais, visto que, devemos esperar ainda quem vai ocupar o cargo”, cita.

Por meio de nota oficial, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) do Ministério das Comunicações informa que o presidente Jair Bolsonaro alterou, nesta segunda-feira (29/3), diversos cargos de titularidade nos ministérios. Ainda segundo a pasta, o embaixador Carlos Alberto Franco França é uma das indicações para assumir o novo cargo de ministro das Relações Exteriores.

A seguir, relembre os momentos de maior repercussão de declarações e atitudes do ex-ministro na comunidade internacional:


Discurso de posse e o globalismo

Em 2019, o ministro Ernesto Araújo causou polêmica na cerimônia de posse ao citar, em seu discurso nacionalista e marcado pelo ataque ao globalismo, vários trechos de músicas, escritores, filmes e outras referências da cultura pop.

Comunavírus

Em 2020, o chanceler criou o termo “comunavírus”, defendendo a ideia de que a pandemia do coronavírus seria parte de um “caminho para o comunismo”. Segundo o ministro, o “comunavírus” seria um vírus ideológico que despertaria um pesadelo comunista.

Covid-19

Em 2021, em viagem oficial com o presidente a Israel, o ministro foi repreendido por não usar máscara ao se encontrar com o chanceler israelense, Gabi Ashkenazi. Os países fecharam acordo para fomentar o desenvolvimento de vacinas, medicamentos e tratamentos para a covid-19. Araújo foi repreendido pelo apresentador no momento em que foi solicitado para tirar a foto oficial. “Nós precisamos que coloque a máscara”, alertou.

Recentemente, Ernesto Araújo também estava sendo pressionado pelos parlamentares do Senado Federal a pedir demissão. O Congresso Nacional agiu em defesa das insinuações feitas pelo ministro à senadora Kátia Abreu (PP-TO) a respeito dos interesses da China na instalação da internet 5G no Brasil. As pressões repercutiram entre os parlamentares, que declararam apoio à senadora.

“A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal. E justamente em um momento em que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao país”, defendeu o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, nas redes sociais, no último domingo (28/3).

 

* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer