Surto de policial

Morte de PM em Salvador é politizada contra medidas de restrição contra a covid

Redes sociais foram tomadas por vídeos e áudios associando a morte de Wesley Góes a um suposto "ato heroico". No entanto, Comando da PM afirma que policial foi abatido por surtar e disparar contra colegas de profissão

Após a confirmação da morte do soldado da Polícia Militar Wesley Góes, de 38 anos, nesta segunda-feira (29/3), apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e críticos do lockdown foram às redes sociais condenar as medidas restritivas de circulação impostas por governadores para tentar frear a pandemia de covid-19 no Brasil.

O caso aconteceu no domingo (28/3) e, em pouco tempo, as redes sociais foram tomadas de vídeos e áudios associando a morte do PM a um suposto "ato heroico". A ala de apoiadores do presidente diz que o militar foi abatido por insurgir contra as ordens para "prender trabalhadores" que desobedeciam as medidas restritivas determinadas pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT).

A tentativa de associar a ação do policial a um ato de desobediência civil tem sido usada nas redes sociais também por políticos com mandato, como a deputada Bia Kicis (PSL-DF) e o deputado Soldado Prisco (PSC-BA), bem como discursos inflamados, a exemplo do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, que chegou a falar em ditadura e viralizou rapidamente nas redes. Pela manhã, a morte do soldado chegou a ocupar cinco posições nos trending topics do Twitter, que reúne os assuntos mais comentados do momento no site.

"Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia arou. Chega de cumprir ordem ilegal!", escreveu Bia Kicis. Horas depois, a parlamentar recuou e apagou a postagem das redes sociais.

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, foi além e disse que o nome do policial poderá ser incluído na lista de Personalidades Negras da instituição. "As palavras dele, antes de ser baleado, expressam a indignação dos trabalhadores brasileiros ante a truculência e o autoritarismo. Temos informações preliminares de que a conduta do PM Wesley Góes era exemplar, o que considero provável. Assim que houver confirmação oficial da reputação ilibada dele como soldado, a Palmares procederá à justa homenagem", anunciou Camargo.

Até o momento, ninguém sabe, ao certo, o que teria levado o soldado ao surto. Mas, de acordo com o comandante da Polícia Militar da Bahia, o coronel Paulo Coutinho, Góes não morreu porque se negou a cumprir ordens, mas por ter atirado contra os próprios colegas.

"Enquanto os disparos não estavam oferecendo riscos para a tropa e para as pessoas que circulavam, protegemos a integridade do soldado. Sempre temos esse cuidado, temos expertise de atender ocorrência dessa natureza. Foram utilizadas outras alternativas, porém ele estava com uma arma de grande poder de letalidade e em determinado momento todos os recursos de isolamento e proteção foram esgotados", avaliou. A negociação direta entre as tropas e o soldado durou cerca de três horas e meia.

O caso

A ocorrência que culminou na morte do soldado começou por volta das 14h do domingo, quando o militar chegou armado com fuzil e pistola, na região do Farol da Barra. Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), a negociação com o soldado durou cerca de três horas e ele alternava momentos de lucidez com acessos de raiva, acompanhados de disparos. Além dos tiros de fuzil, o soldado arremessou grades, isopores e bicicletas no mar. Três viaturas de quatro rodas também foram desengrenadas e direcionadas para guarnições que isolavam o local.

Aproximadamente às 18h35, o soldado verbalizou que havia chegado o momento, fez uma contagem regressiva e iniciou os disparos contra as equipes do Bope. Após pelo menos 10 tiros, o soldado foi neutralizado e socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos. 

Saiba Mais