O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), respondeu neste domingo (28/3) a um ataque feito pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, contra a senadora Kátia Abreu (PP-TO), em meio a intensas críticas de senadores contra o chanceler, devido à sua atuação no âmbito da pandemia da coronavírus.
"A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal. E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao país", escreveu o ministro em sua página no Twitter.
A manifestação ocorreu depois que Araújo publicou no perfil da rede social um texto sugerindo que as críticas recebidas da senadora dizem respeito a interesses relacionados ao 5G e não à vacinação contra a covid-19. "Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE (Ministério das Relações Exteriores). Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: 'Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.' Não fiz gesto algum", escreveu.
Em entrevista à Globonews na noite deste domingo, Pacheco voltou a falar sobre o assunto, dizendo ter recebido com "perplexidade e indignação" o ataque de Araújo à senadora. "Enquanto há pessoas com o propósito de somar, pacificar, inclusive ao lado do presidente (Jair Bolsonaro), há junto dele também pessoas que visam constantemente desagregar. É o caso do ministro Ernesto Araújo", afirmou.
O presidente do Senado disse ainda que irá usar os instrumentos próprios da Casa para defender a instituição contra qualquer ataque. O democrata também chamou a afirmação do chanceler de "leviana", "falsa" e "infeliz".
Pacheco ressaltou que a escolha de ministros é uma prerrogativa do presidente da República, e que nunca pediu a sua demissão, mas que apontou a Bolsonaro "o entendimento amplamente majoritário do Senado de que a política externa do Brasil não é boa". "Que é uma política falha, capenga e que precisa ser corrigida para bem do nosso país", pontuou.
O senador frisou que o momento de crise no país, devido à pandemia, e que o senado não irá entrar em "jogo de inviabilização" ou boicote a qualquer pessoa. "Na verdade, a inviabilização do ministro tem sido feita por ele próprio, com a sua incapacidade de fazer gestão diplomática do Brasil como se espera de um chanceler".
Mais senadores
A reação também veio de outros senadores, como Simone Tebet (MDB-MS), que disse que "ao plantar insinuações contra a senadora Kátia Abreu, o ministro Ernesto Araújo atinge todo o Senado". Ela disse, ainda, que "Ernesto e democracia não andam juntos".
O ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) afirmou que “a insinuação irresponsável por parte de um ministro não é somente um desrespeito ao Senado Federal". "É um ato contra todos que constroem a longa e honrosa tradição da diplomacia brasileira”, frisou.
O líder do Cidadania na Casa, Alessandro Vieira (SE), também se manifestou dizendo que "a manutenção de um ministro incompetente, irresponsável e que trabalha contra os interesses nacionais é um grave erro e terá consequências".
Pressão
Na última quarta-feira (24), em audiência na Casa, senadores de diversas legendas (como PSDB, MDB e partidos de oposição, como Rede) pediram a renúncia do chanceler, questionado a atuação dele no âmbito de negociações para obtenção de vacinas de outros países.
Naquele mesmo dia, o ministro já havia sido cobrado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro, ministros de Estado, e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.
No próprio Itamaraty, o sentimento é de insatisfação por parte dos servidores. No último sábado, estimulados pela reação do Senado ao ministro, diplomatas publicaram uma carta pedindo a saída do chanceler. O texto não foi assinado, sob a justificativa de restrição imposta pela Lei do Serviço Exterior, mas a reportagem confirmou a autenticidade.
"Nos últimos dois anos, avolumaram-se exemplos de condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo os códigos mais elementares da prática diplomática. O Itamaraty enfrenta aguda crise orçamentária e uma série numerosa de incidentes diplomáticos, com graves prejuízos para as relações internacionais e a imagem do Brasil. A crise da covid-19 tem revelado que equívocos na condução da política externa trazem prejuízos concretos à população. Além de problemas mais imediatos, como a falta de vacinas, de insumos ou a proibição da entrada de brasileiros em outros países, acumulam-se danos de longo prazo na credibilidade internacional do país", traz um trecho.