O discurso duro do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acendeu um alerta no Palácio do Planalto. Depois de o deputado falar em “sinal amarelo” ao governo e que os remédios políticos do Parlamento são “amargos” e até “fatais”, pedindo uma ação conjunta no combate à pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com ele ontem. Após o encontro, o chefe do Planalto acompanhou o parlamentar até o carro e falou com jornalistas.
“Eu conversei com o Lira, não tem problema nenhum entre nós. Zero problema. Conversamos sobre muitas coisas. O que nós queremos juntos é buscar maneiras de contratarmos mais vacinas”, afirmou. “Nunca teve nada errado entre nós. Sou um velho amigo de Parlamento, torci por ele, e o governo continua tudo normal.” Lira não se pronunciou.
Bolsonaro tem sido pressionado para trocar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Questionado sobre isso ontem, preferiu não responder. Na última quarta-feira, em reunião entre os Três Poderes para discutir a criação de um comitê de combate à pandemia, Lira cobrou do chanceler que o Itamaraty precisa negociar com outros países, em relação aos insumos.
A pressão pela saída de Ernesto é crescente e gera, cada vez mais, um desconforto entre Congresso e Planalto. O descontentamento se estende, também, ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Parlamentares da base governista e outros articuladores tentam aliviar a situação de tensão. Mas, para o vice-líder do Solidariedade, deputado Zé Silva (MG), o ministro é apenas uma “peça no xadrez”, não sendo o motivo principal do recado de Lira que, para ele, foi motivado por toda a situação na qual o Brasil está, com mais de 300 mil mortos por covid-19 e uma vacinação em ritmo lento. O país está em colapso e, segundo o parlamentar, o Congresso precisa mostrar postura.
Foi isso que Lira fez na quarta-feira: defendeu o Parlamento de possíveis críticas de inércia perante a crise sanitária. “A postura dele (Lira) é coerente. Se eu fosse ele, também teria um posicionamento duro”, afirmou, frisando que os congressistas são cobrados diariamente pela população. “Ou ele (Lira) faz isso, ou então o Congresso será conivente com tudo que estava acontecendo”, disse Zé Silva.
Bolsonaro tem sido pressionado a agir no âmbito da pandemia, com ações coordenadas. O presidente passou a usar máscara de proteção publicamente e até demitiu o general Eduardo Pazuello após muitas cobranças do Centrão. Nesta semana, reuniu-se com os outros dois Poderes (Legislativo e Judiciário) para anunciar a criação de um comitê, a ser dirigido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que fará reuniões semanais visando articular ações no âmbito do combate à crise sanitária.