O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez um discurso duro durante a sessão plenária desta quarta-feira (24/3). Ele pediu união no combate ao novo coronavírus. Disse, ainda, que, nas próximas duas semanas, as sessões de votação se restringirão apenas a projetos relacionados ao combate à pandemia. Lira disse ao Executivo que acendeu "a luz amarela", que remédios políticos do parlamento "são todos amargos, e alguns, fatais" e que não há mais espaço para errar.
O número de mortos pela doença no Brasil está em 300.675. Com registro de mais 89.414 casos, o acumulado de infectados está em mais de 12,2 milhões de pessoas.
Lira começou o discurso lembrando que participou de reunião com o presidente do Senado, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, o presidente da República, Jair Bolsonaro, e outros interlocutores, para tratar de um plano de contenção da pandemia. Entre os presentes, estava o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que levou um pito do deputado durante o encontro, e foi chamado pelo primeiro nome algumas vezes..
“Como todos sabem, participei hoje como representante desta Casa de encontro com o senhor Presidente da República e todos os Chefes de Poderes para tratar de uma abordagem eficaz, pragmática e holística da questão da pandemia. Pandemia é vacinar, sim, acima de tudo. Mas para vacinar temos de ter boas relações diplomáticas, sobretudo com a China, nosso maior parceiro comercial e um dos maiores fabricantes de insumos e imunizantes do planeta”, começou o parlamentar.
Entre os recados para o governo, também destacou que é preciso “ter uma percepção correta” por parte dos americanos, e que o Brasil precisa que os esforços na área do meio ambiente sejam reconhecidos. Lira disse querer crer que há uma mudança de atitude do governo federal em relação à pandemia, “urgente e inadiável”. “Será preciso evoluir, dar um salto para a frente, libertamos as amarras que nos prendem a condicionamentos que não funcionam mais, que nos escravizam a condicionamentos que já se esgotaram”, disse.
De acordo com o deputado, a presidência da Câmara procura equilíbrio “entre o espírito de colaboração que, mais que nunca, é necessário manter e construir com os demais Poderes durante estes momentos dramáticos da pandemia e a observância fiel e disciplinada à vontade soberana desta Casa”. “Vivemos nestes dias o pior do pior, as horas mais dolorosas da maior desgraça humanitária que se abateu sobre nosso povo. E quero dizer a todos que estou sensível ao desespero dos brasileiros e à angústia de Vossas Excelências, afirmou dirigindo-se aos parlamentares.
"Sinal amarelo"
Lira avisou que a Câmara não ficará alienada. “Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados”, avisou. “Dirijo-me a todos que conduzem os órgãos diretamente envolvidos no combate à pandemia”, completou.
Em seguida, lembrou que o sistema de saúde é tripartite. “Mas, também sabemos, a política é cruel e a busca por culpados — sobretudo em momentos de desolação coletiva — é um terreno fértil para a produção de linchamentos. Por isso mesmo, todos têm de estar mais alertas do que nunca, pois a dramaticidade do momento exige. A razão não está de um lado só, com certeza. Os erros não estão de um lado só, sem duvida. Mas, acima de tudo, os que têm mais responsabilidade têm maior obrigação de errar menos, de se corrigir mais rapidamente e de acertar cada vez mais. É isso ou o colapso”, disparou.
Lira também assoprou. Disse que não seria justo culpar apenas o governo federal ou o presidente da República. Pediu que “o coletivo se imponha sobre os indivíduos”, “antes de partir para as responsabilizações individuais”. Garantiu que segue nesse esforço e que todos os lados terão que ceder ou o esforço não trará resultados. Em seguida, porém, voltou a apertar o Executivo.
“Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta Presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política. Mas alerto que, dentre todas as mazelas brasileiras, nenhuma é mais importante do que a pandemia. Esta não é a casa da privatização, não é a casa das reformas, não é nem mesmo a casa das leis. É a casa do povo brasileiro. E quando o povo brasileiro está sob risco, nenhum outro tema ou pauta é mais prioritário”, avisou.
Freio de arrumação
O parlamentar pediu um freio de arrumação “até que todas as medidas necessárias e todas as posturas inadiáveis fossem imediatamente adotadas, até que qualquer outra pauta pudesse ser novamente colocada em tramitação”. Nesse momento, pediu a adoção de um esforço concentrado e destacou que pausaria a pauta legislativa para votar temas relacionados a salvar vidas, obter vacinas, e retirar obstáculos políticos, legais e regulatórios para adquirir imunizantes “no menor prazo de tempo possível”.
“Mas isso não depende apenas desta Casa. Depende também — e sobretudo — daqueles que, fora daqui, precisam ter a sensibilidade de que o momento é grave, a solidariedade é grande, mas tudo tem limite, tudo! E o limite do parlamento brasileiro, a Casa do Povo, é quando o mínimo de sensatez em relação ao povo não está sendo obedecido”, voltou a avisar.