Durante uma sessão do Senado na tarde desta quarta-feira (24/3) em que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi questionado pelos parlamentares sobre as ações do Palácio do Itamaraty para garantir a compra de vacinas contra a covid-19, um assessor do presidente Jair Bolsonaro fez um gesto obsceno com a mão — nas redes sociais, muitos internautas viram como uma símbolo de supremacistas.
Logo no início do evento, quando o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), fazia um discurso sobre como o Senado tem se empenhado para auxiliar o país no enfrentamento da crise sanitária, o assessor especial para Assuntos Internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins, juntou os dedos indicador e polegar da mão direita e os deixou visíveis à câmera que filmava Pacheco.
Martins estava sentado atrás do senador e quase não prestou atenção ao pronunciamento do parlamentar. Apesar da seriedade da sessão desta quarta, o assessor presidencial ficou por um bom tempo utilizando o seu celular. Em uma das poucas vezes que deixou o aparelho de lado, protagonizou o momento grosseiro.
"Inaceitável"
A atitude de Martins revoltou ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado. Ele pediu a suspensão da sessão — o que foi posteriormente negado por Pacheco —, e que a Polícia Legislativa retirasse o assessor de Bolsonaro das dependências do Senado e o autuasse — apesar disso, Martins continuou presenciando a sessão.
"Eu não sei é o sentido do gesto do senhor Filipe. Era bom que ele explicasse. Mas isso é inaceitável, senhor presidente. Em uma sessão do Senado Federal, durante a fala do presidente do Senado, um senhor estar procedendo de gestos obscenos, estar ironizando o pronunciamento do presidente da nossa Casa. Isso é inaceitável e intolerável", vociferou Randolfe.
O senador continuou o desabafo dizendo que a atitude de Martins é mais um exemplo do "desrespeito" do governo federal com a população brasileira em meio à pandemia da covid-19. "Basta o desrespeito que esse governo está tendo com mais de 300 mil mortos a esta altura. Basta isso. Não aceitamos que um capacho do senhor presidente da República venha aqui ao Senado, durante a fala do presidente do Senado, nos desrespeitar. Isso é inaceitável. Já não existem mais limites a serem ultrapassados."
Mais serenidade
Pacheco disse que não seria possível interromper a sessão pois ela era uma "oportunidade muito importante do Senado Federal para que nós possamos ter as soluções para o problema da pandemia".
"Nós precisamos serenar os ânimos. Tivemos uma reunião muito positiva hoje para a formação de um grupo de trabalho pautado na união e num pacto nacional em torno de soluções para o enfrentamento do coronavírus", destacou o presidente do Senado, se referindo ao encontro nesta manhã no Palácio da Alvorada de Bolsonaro, ministros, governadores e os integrantes do Legislativo e do Judiciário.
De todo modo, Pacheco prometeu investigar a ocorrência do fato. "Tendo havido de fato, nas circunstâncias, como vossa excelência aponta, serão tomadas todas as providências, e enérgicas, por parte da Presidência do Senado."
Defesa
O gesto feito por Martins tem sido associado nos últimos anos como um símbolo de ódio utilizado por grupos de extrema direita para cultuar a supremacia branca. Isso porque a posição dos dedos médio, anelar e mindinho se assemelha a uma letra W (inicial de white, branco em inglês), e a posição dos dedos indicador e polegar forma um P (inicial de power, poder em inglês).
O assessor de Bolsonaro foi acusado nas redes sociais de ter feito um gesto com essa finalidade, mas ele usou seus perfis pessoais para rebater as críticas e disse que estava apenas ajeitando o paletó do terno.
"Um aviso aos palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao "supremacismo branco" porque em suas mentes doentias enxergaram um gesto autoritário numa imagem que me mostra ajeitando a lapela do meu terno: serão processados e responsabilizados; um a um", escreveu.