Recuperar as perdas sofridas na pandemia de covid-19 é urgente, mas não basta para que a economia e a indústria brasileira voltem a crescer de forma sustentável, na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Por isso, a CNI defendeu ontem, no Correio Talks: Desafios para o Brasil pós-pandemia, que o combate à covid-19 caminhe de forma paralela à agenda estrutural para elevar a produtividade do país.
“Voltar para onde a gente estava antes da pandemia não é suficiente”, comentou o economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca. Ele explicou que, antes mesmo da crise da covid-19, o país já evoluía em ritmo lento. Segundo a CNI, o país deveria crescer 3% ao ano para se aproximar das economias desenvolvidas e reduzir a pobreza. Mas registrou uma taxa média anual de apenas 0,3% nos últimos dez anos.
Já a indústria caiu cerca de 1,6% ao ano nesse período, nas contas da CNI, por conta dos problemas de competitividade e produtividade do país. Com isso, despencou da 10ª para a 16ª posição do ranking mundial do setor entre 2014 e 2019. Renato da Fonseca acredita, por isso, que o país não pode mais esperar por medidas que melhorem a produtividade nacional, como as reformas econômicas.
“Na crise do ano passado, a gente primeiro resolveu adotar ações emergenciais, para depois retomar a agenda da produtividade. Agora, não tem mais tempo. A gente vai ter que caminhar com as duas agendas ao mesmo tempo. Senão, o Brasil vai conseguir se recuperar dessa crise, mas não vai conseguir estabelecer bases para um crescimento sustentado”, alertou o economista-chefe da CNI. “O Brasil não pode mais esperar para trabalhar na agenda da competitividade se quer fazer parte do mundo e aumentar o padrão de vida da população”, reforçou.
Nesse sentido, Fonseca disse que o país precisa avançar com ações que possam reduzir o custo Brasil, melhorar a infraestrutura e ampliar a educação do brasileiro. Ele ressaltou, contudo, que o governo também não pode deixar de socorrer o setor produtivo neste momento de agravamento da pandemia de covid-19.
“Do mesmo modo que o auxílio emergencial se faz necessário para as pessoas, é preciso voltar com políticas e auxílios criados para as empresas, para manutenção do emprego formal”, defendeu o economista-chefe da CNI. Ele lembrou que muitos programas importantes para as empresas no ano passado — como os acordos de suspensão do contrato de trabalho, o diferimento de impostos e os programas emergenciais de crédito —, chegaram ao fim em 31 de dezembro. Fonseco alertou que as empresas brasileiras precisam novamente desse suporte por conta da segunda onda da pandemia de covid-19. “Estamos demorando a voltar com medidas emergenciais e estamos sentindo exatamente o que sentimos em março e abril do ano passado”, alertou.
Segundo a CNI, a segunda onda da pandemia de covid-19 afetará o crescimento econômico e a atividade industrial até, pelo menos, o fim de abril. Por conta disso, nesta semana, a confederação reduziu de 4% para 3% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021.