Uma crise de oxigênio generalizada no país pode começar nos próximos dias pelos hospitais de menor porte que assistem municípios do interior do Brasil. O alerta foi feito pelo diretor de Logística do Ministério da Saúde, general Ridauto Fernandes, durante reunião da Comissão Temporária da Covid-19 nesta quinta-feira (18/3). "A expectativa da falta perigosa desse produto na ponta da linha, nos pequenos hospitais, é de poucos dias", frisou.
A origem deste problema, segundo Fernandes, é a dificuldade que os envasadores estão enfrentando em conseguir abastecer as carretas nas grandes empresas produtoras de oxigênio hospitalar. Além das longas distâncias que os transportes precisam percorrer, o que, inclusive, ocasiona perda de produtos, as plantas fabris estariam se recusando a fazer o reabastecimento, como alegou o diretor, exemplificando que situações como esta estariam prejudicando o atendimento ao Amazonas, Paraná e Curitiba.
"Nós temos carretas, por exemplo, de produtores da Amazônia que hoje estão esperando em uma planta [de produção de oxigênio] do interior do Maranhão; já está com a sua carreta parada lá há dias e dias, e não é abastecida. Nós temos envasadores do Paraná que chegam às plantas também e não conseguem abastecer", disse o general. A recusa ocorreria pelo fato dos envasadores serem concorrentes das próprias fábricas que, em tempos normais, fariam este produto chegar à ponta. Em meio à crise de saúde, os grandes produtores não conseguem suprir a demanda.
O diretor afirmou que uma mudança legislativa urgente é necessária para ajudar na questão. "Nós temos de criar uma ferramenta para que a indústria não possa recusar a carreta que chega para ser enchida. Embora seja um concorrente, embora seja alguém que vá receber aquele oxigênio e revendê-lo, no momento nós não temos estrutura, o grande não consegue chegar à ponta da linha. Então, nós dependemos, sim, dessas carretas que estão na mão dos pequenos, dos envasadores para poder fazer chegar à ponta da linha. Se não chegar à ponta da linha, nas UPA’s e nos pequenos hospitais, nós teremos mortes".
No entanto, o presidente-executivo da Associação Brasileira de Indústria Química (Abiquim), Ciro Marino, chamou atenção para a necessidade do governo federal prestar este auxílio logístico e centralizar as informações, uma vez que as grandes fábricas já lidam com a pressão de aumentar a capacidade de produção. "Temos pedido com veemência que o governo federal assuma o controle e centralização dessas informações perante autarquias, municípios, entidades e tudo, de forma que as empresas possam se concentrar nos seus negócios novamente, que é produzir, organizar, expandir capacidades".
Anvisa
A fim de organizar um banco de dados capaz de entender a real capacidade de produção de cada fábrica e melhor organizar o esquema de distribuição, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) começou a cobrar as informações, notificando 47 empresas. "Até hoje de manhã, 32 responderam. Estamos compilando os dados de forma a disponibilizar diretamente ao ministério, para favorecer as discussões e o manejo com estados e municípios", informou a diretora Meiruze Freitas.