Interessado em passar a ideia de que segue as determinações da medicina na gestão da pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro passou os últimos dias em busca de um médico que siga a sua receita nessa seara. Encontrou alguém que aceitou um meio-termo dessa agenda, o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga. Nesta segunda-feira (15/3) à noite, o médico ficou até tarde no Planalto, fechando os detalhes do que deve ser mudado e o que deve ser mantido na política do Ministério da Saúde. O novo ministro, que substituirá o general Eduardo Pazuello, não deve, por exemplo, apoiar o lockdown, que vem sendo adotado em vários estados, e tentará convencer os médicos a ajudar nesse discurso contra o distanciamento social.
Queiroga será o quarto ministro da Saúde do governo Bolsonaro desde o início da pandemia. Além de Pazuello — que comandava a pasta desde maio do ano passado —, ocuparam o cargo Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. O médico cardiologista substituirá o general no pior momento da pandemia, com quase 280 mil mortes pela covid e colapso no sistema de saúde.
À noite, a apoiadores, Bolsonaro afirmou que conhece Queiroga “há alguns anos”. “Então, não é uma pessoa que eu tomei conhecimento há poucos dias. E tem tudo, no meu entender, para fazer um bom trabalho, dando prosseguimento em tudo que Pazuello fez até hoje”, enfatizou. Queiroga é muito ligado ao senador Flávio Bolsonaro, que o havia indicado para a Agência Nacional de Saúde (ANS).
Bolsonaro também ressaltou que o programa de vacinas do Brasil é “bastante ousado”. “Mais de 400 milhões de doses contratadas até o final do ano. Este mês, vamos receber mais de 4 milhões de vacinas. E essa política de vacinação em massa continuará cada vez mais presente em nosso governo”, frisou. “O senhor Marcelo Queiroga, médico agora, também gestor, muito mais entendido na questão de saúde, vai fazer outros programas que interessem, cada vez mais, para diminuirmos o número de pessoas que venham a entrar em óbito por razão dessa doença.”
O presidente mencionou que o Brasil é o quinto país, em valores absolutos, que mais vacina no mundo. “Então, o trabalho do Pazuello está muito bem-feito, a parte de gestão foi muito bem-feita por ele. Agora, vamos partir para a parte mais agressiva no tocante ao combate ao vírus”, afirmou. Bolsonaro destacou que o nome de Queiroga será publicado na edição de hoje do Diário Oficial da União (DOU) e que a “transição que vai demorar de uma a duas semanas”.
Pressão
A procura por um novo titular da pasta começou quando o número de casos da covid-19 alcançou o pico no Brasil, com mais de 10 mil mortes em uma semana, e aumentou a pressão pelas vacinas, com um vai e vem no cronograma anunciado pelo Ministério da Saúde na compra de imunizantes, o que desgastou ainda mais a atuação de Pazuello, que, desde maio do ano passado, cumpre a missão de tentar coordenar o trabalho do governo federal nessa área. E fez tudo o que foi pedido por Bolsonaro.
Ao mesmo tempo em que Bolsonaro se preparava para conversar, ainda no domingo, com a cardiologista Ludhmila Hajjar, que recusou o convite (leia reportagem na página 3), o governo fez circular a versão de que Pazuello deixaria o cargo por problemas de saúde. O general não gostou. Por intermédio de sua assessoria, disse que não estava doente e que era ministro até que o presidente pedisse o cargo. Ele ainda participou da reunião com Hajjar.
Ontem, horas antes de Bolsonaro fechar com Queiroga, Pazuello admitia que deixaria a pasta. “O ministro Pazuello vai ser substituído? Um dia, sim. Pode ser a curto, médio ou longo prazo. O presidente está nessa tratativa de reorganizar o ministério”, afirmou. “Enquanto isso não for definido, a vida segue normalmente. Eu não estou doente, não pedi para sair e nenhum de nós, do nosso executivo, está com problema algum. Nós estamos trabalhando focados na missão. Quando o presidente tomar sua decisão, faremos uma transição correta, como manda o figurino.”
Pazuello disse que estará à disposição “para ajudar todos aqueles que vierem aqui”. “É continuidade na missão, não há rompimento. Os senhores não estão acostumados com isso. Estão acostumados com políticos que saem e largam a caneta”, comentou.