O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, está com um pé fora da pasta, mas o presidente Jair Bolsonaro ainda não encontrou um substituto para o general. O chefe do Executivo reuniu-se ontem à tarde no Palácio da Alvorada com a médica cardiologista e intensivista Ludhmila Abrahão Hajjar — que praticamente foi anunciada como nova ministra pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) —, mas não bateu o martelo. Pazuello também participou da conversa e, após encontro, anunciou que não estava doente nem havia deixado o cargo. Nas redes sociais, a médica goiana, que é supervisora cardio-oncologista do Hospital das Clínicas e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), passou a sofrer intenso bombardeio dos bolsonaristas nas redes sociais, por causa de entrevista ao Jornal Opção, de Goiânia, no último dia 7. Sua nomeação subiu no telhado.
A fritura de Pazuello começou na manhã de sábado, quando a cúpula do Congresso se reuniu na residência oficial do presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para discutir a promulgação da PEC do auxílio emergencial. Participaram da reunião o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira; os líderes do governo no Senado, senador Fernando Bezerra (MDB-PE); na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR); e no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO). A conversa derivou para a crise sanitária e a situação insustentável de Pazuello no Congresso, apesar de todas as oportunidades que o ministro teve explicar a crise e oferecer alternativas convincentes de combate à pandemia aos deputados.
Com Pazuello no Ministério da Saúde, será praticamente impossível para o governo evitar a instalação da chamada CPI da Pandemia, ainda mais depois das duras cobranças feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou a condução dada pelo governo ao enfrentamento da crise sanitária no seu primeiro pronunciamento após a anulação de suas condenações pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. Responsável pela articulação política do governo, o ministro da secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, que havia se incorporado à reunião, levou ao conhecimento de Bolsonaro a opinião de seus aliados. Não é de agora que os líderes do chamado Centrão querem desmilitarizar o Ministério da Saúde, hoje comandado por uma equipe despreparada para gerenciar o Sistema Único de Saúde (SUS).
Vazamentos
Ao ouvir o relato dos aliados, o presidente Bolsonaro mobilizou os generais do Palácio do Planalto para uma conversa com Pazuello. O encontro ocorreu na noite do sábado, no hotel de trânsito do Exército em Brasília, onde o ministro mora. Participaram da reunião os generais Fernando Azevedo, ministro da Defesa; Walter Braga Neto, ministro da Casa Civil; além do ministro Ramos, porta-voz da insatisfação dos políticos. Pazuello foi comandante da Brigada de Paraquedistas quando o general Azevedo foi Comandante do Leste, tendo Braga Neto como chefe de Estado-Maior e Ramos, comandante da Vila Militar. Os quatro formam um grupo político que hoje dá as cartas no Palácio do Planalto. Na conversa, Pazuello foi informado por Bolsonaro de que precisaria ser substituído.
A decisão acabou vazando na manhã de ontem, por causa da reunião com Ludhmila, marcada para o Palácio do Alvorada, na tarde de ontem. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a defender no Twitter a indicação da médica goiana para a pasta, por causa da “capacidade técnica” e do “diálogo político”. Além de Lira, é extensa a lista de autoridades de Brasília que receberam cuidados da médica intensivista quando contraíram covid-19: o deputado Rodrigo Maia; o senador Davi Alcolumbre; o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM); o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli, o ministro do Tribunal de Contas da União Bruno Dantas.
A indicação pegou de surpresa até a Frente Parlamentar da Saúde, que prefere na pasta um político com experiência de gestão no SUS. Esses parlamentares desejam ver no cargo o presidente da Comissão de Seguridade Social da Câmara, Dr. Luizinho (PP-RJ ), que já foi secretário estadual de Saúde. Entretanto, o parlamentar tem excelente relacionamento com Pazuello e acabou de assumir o comando da comissão. Ele diz que não pleiteia a pasta.
O maior bombardeio contra Ludmila, porém, vem dos bolsonaristas. Natural de Anápolis (GO), a médica defende posições que se chocam frontalmente com as do presidente Jair Bolsonaro, mais ou menos como aconteceu com o ex-ministro da Saúde Nelson Teich, que ficou um mês no cargo e pediu demissão. Nas redes sociais e na mídia, a médica tem defendido o uso de máscaras, o isolamento social e criticado o chamado “tratamento precoce”.
É duro para Bolsonaro uma mudança de rota como essa, ainda mais com a mídia atribuindo a queda de Pazuello às exigências do Centrão e às críticas do ex-presidente Lula. Mas é o que seu governo precisa para enfrentar a pandemia.