Bolsonaro prevê caos social com lockdown...

Presidente volta a criticar as medidas restritivas impostas por estados, municípios e o DF para tentar conter o avanço da covid-19 e cita o risco de colapso da economia, o que, segundo ele, poderia provocar "invasão a supermercado, fogo em ônibus, greves, piquetes, paralisações"

Mesmo com as mais de 270 mil mortes pela covid-19 no país, o colapso no sistema de saúde e a vacinação lenta da população, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o lockdown adotado por estados e o Distrito Federal. Na visão dele, governadores e prefeitos estão “destruindo” a economia. “Até quando? Até quando nossa economia vai resistir? Se colapsar, vai ser uma desgraça. O que poderemos ter brevemente? Invasão a supermercado, fogo em ônibus, greves, piquetes, paralisações”, enumerou. “Aonde vamos chegar? Será tarde para o sapo sair da panela”, emendou, durante participação virtual em reunião da Frente Parlamentar Mista das Micro e Pequenas Empresas, do Congresso Nacional.


Bolsonaro disse que as medidas de contenção do novo coronavírus são irresponsáveis. “Ficamos praticamente um ano em lockdown e começamos este ano com novas medidas seriamente restritivas, até para cancelar o futebol”, disse. “Eles (prefeitos e governadores) não querem salvar vidas, querem poder”, enfatizou. Segundo o mandatário, as ações implementadas são para “prejudicar a economia e o presidente da República”.
O toque de recolher, decretado em São Paulo (leia reportagem na página 5) e no Distrito Federal, também foi alvo de reprovação de Bolsonaro, que chamou a iniciativa de “estado de sítio”. “De 22h às 5h da manhã ninguém pode andar. Só eu poderia tomar uma medida dessa e, assim mesmo, ouvindo o Congresso Nacional. Então, na verdade, medida extrema dessa, só o presidente da República e o Congresso Nacional poderiam tomar. E nós vamos deixando isso acontecer”, disparou. A lei, porém, garante direito aos governadores de adotarem tais medidas em períodos de calamidade na saúde.


O chefe do Planalto rebateu críticas contra o governo e afirmou que a administração federal não tem ficado “à margem do que está acontecendo”. Nesta semana, a atuação do Executivo na crise sanitária foi reprovada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador de São Paulo, João Doria, dois possíveis candidatos à eleição presidencial de 2022.


De acordo com Bolsonaro, o governo tomou medidas para combater o novo coronavírus desde o “primeiro momento”. Por isso, segundo ressaltou, não pode ser acusado de negacionista, terraplanista ou genocida. “Estamos no caminho certo. Faremos de tudo possível para diminuir o número de mortes e, se Deus quiser, zerar o número de mortes no Brasil, no tocante à vacina, no tocante ao coronavírus”, destacou.
O comandante do Planalto também negou que tenha se posicionado contra a saúde das pessoas, apesar de minimizar a covid-19 desde o início da pandemia, quando, por exemplo, chamou o vírus de “gripezinha”. Ele reforçou que “emprego também é vida”. “Você que está empregado, estamos trabalhando para manter seu emprego, não estamos fazendo política”, afirmou.


O presidente disse “lamentar todas as mortes”. “Lamento esta desgraça que se abateu sobre o mundo, mas nós temos que olhar para frente, buscar minimizar a dor dessas pessoas, buscar minimizá-la com vacina”, afirmou. “Toma vacina. Abrimos para comprar praticamente de todos os laboratórios depois de aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).” O presidente sustentou que nunca foi contra imunizantes. Em dezembro, porém, garantiu que não tomaria vacina. (Com Agência Estado)

*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa

Apoio a investigação

O Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) manifestou “apoio irrestrito” à decisão da Ordem dos Advogados do Brasil de apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de investigação sobre as responsabilidades, administrativa e criminal, do presidente Jair Bolsonaro, do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e demais autoridades sobre “ações e omissões” no combate à pandemia da covid-19.


“O despreparo e o descontrole das autoridades e agentes públicos responsáveis em combater a pandemia, ademais das condutas inapropriadas que levam ao agravamento da crise na saúde e na economia do país, resultam em evidente menosprezo à vida da população brasileira”, afirmou a presidente nacional do IAB, Rita Cortez, no ofício encaminhado ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
Já a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) divulgou carta aberta a Bolsonaro, apontando o que, na avaliação de 83 políticos associados, deveriam ser prioridades para a atuação do governo no pior momento da pandemia. O texto é assinado por pessoas com mandato, de vereadores a senadores de 19 partidos.


Reconhecer a gravidade do momento, priorizando a vida da população, é a sugestão que abre a lista de sete pontos, que traz ainda, de forma não detalhada, o pedido de estabelecimento de uma renda mínima, a criação de fontes de financiamento para a sustentação de pequenos negócios e a aceleração da vacinação universal no país. A carta também pede que Bolsonaro promova a “união dos entes federados” e apresente um “plano consistente” para que o Brasil supere a crise e recupere a economia.


“O momento é grave, causa severos impactos na vida das pessoas, e é juntando forças que vamos superar”, sustentou o prefeito de Recife, João Campos (PSB), membro da Raps.