Apesar dos os números do governo federal confirmarem o total descontrole da pandemia — nas últimas 24h, o número de mortos pela covid-19 novamente bateu recorde: 1.910 —, o presidente Jair Bolsonaro voltou, ontem, a culpar a imprensa pela grave situação do país, que não consegue acelerar o ritmo de vacinação. Segundo ele, os jornalistas disseminam o pânico e o enxergam como o principal responsável pelo descalabro.
“Para a mídia, o vírus sou eu. Criaram pânico, não é? O problema está aí, lamentamos. Mas você não pode entrar em pânico. Que nem a política, de novo, do ‘fique em casa’. O pessoal vai morrer de fome, de depressão?”, questionou.
Ele disse que prepara um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, que pode ser veiculado nesta semana e no qual abordará a imunização contra o vírus. “O assunto, quando tiver (pronunciamento), vai ser pandemia. O Brasil é um país que, em valores absolutos, mais está vacinando. Temos 22 milhões de doses para este mês. Mês que vem, devem ser mais 40 milhões. O país está mais avançado nisso. Assinei, no ano passado, MP (medida provisória) destinando mais de R$ 20 bilhões para comprar vacina. Estamos fazendo o dever de casa”, explicou.
“Plano de ação”
O presidente disse possuir um plano pronto contra a covid-19. Porém, ao ser questionado sobre qual seria, não detalhou e justificou não possuir “autoridade” para exercê-lo, mas alfinetou o Supremo Tribunal Federal (STF) e os estados — que têm a autonomia do Judiciário para tomarem medidas contra a disseminação da infecção. “Se eu tiver poder para decidir, eu tenho o meu programa e o meu projeto prontos para botar em prática no Brasil. Preciso ter autoridade. Se o Supremo achar que pode dar o devido comando dessa causa a um poder central, que eu entendo ser legitimamente meu, eu estou pronto para botar meu plano”, disse.
Sobre o toque de recolher nacional, sugerido pelos secretários estaduais da Saúde como uma das medidas para diminuir o índice de contaminação pelo vírus nas cidades, Bolsonaro ironizou. “Lembraram de mim um ano depois? Estão sendo pressionados pela população, que não aguenta mais ficar em casa, tem que trabalhar por necessidade”, observou.
Bolsonaro voltou a comentar sobre a possível aquisição de um spray israelense, EXO-CD24, que está sendo testado em pacientes que contraíram a covid-19. Uma comitiva do governo viajará no sábado para finalizar o acordo. A medicação, contudo, não possui comprovação de eficácia e carece de estudos aprofundados, mas a intenção do presidente é que a terceira fase de testes seja realizada no país — “dificilmente alguém irá se opor ao tratamento”, disse, apesar de, mais uma vez, defender o chamado “tratamento precoce” com remédios cuja eficácia contra o novo coronavírus não tem comprovação.