Ministro-chefe da Secretaria de Governo de janeiro a junho de 2019, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz repudia os movimentos de politização das Forças Armadas, uma das razões alegadas para a demissão do general Fernando Azevedo e Silva do ministério da Defesa. Ele também criticou a falta de transparência nas mudanças promovidas pelo Palácio do Planalto na última segunda-feira. Santo Cruz deu entrevista ao programa CB.Poder, parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília.
“O governo deveria dizer o porquê (da reforma ministerial). A população tem o direito de ser informada, e a autoridade tem a obrigação de informar. Agora, se for pelo motivo que vem sendo ventilado, que é alinhamento político, comportamento político de Forças Armadas, nós estamos em um campo extremamente perigoso. Não pode acontecer politização partidária das Forças Armadas”, disse Santos Cruz.
Projeto de poder
O ex-ministro disse não estar certo de que o chefe do Executivo age com esse interesse, mas se trata de uma estratégia inaceitável. “As Forças Armadas não são instrumento de intimidação política, pressão política, de projeto de poder pessoal”, afirmou Santos Cruz.
Estão comentando que hoje de manhã, nessa reunião os comandantes militares com o novo ministro da defesa, o general Braga Neto teria dito que missão dada, missão cumprida, referia-se aí a essa questão do presidente Jair Bolsonaro querer inclusive que as forças armadas ajudem no que ele considera missão de permitir a circulação de todos os brasileiros, sem lockdown, sem esse distanciamento social que os governadores vem pregando aí nesse momento.
Santos Cruz comentou a frase "missão dada, missão cumprida", dita pelo general Braga Netto, novo ministro da Defesa. Segundo o ex-ministro, é preciso ser mais claro, dizer de qua missão se trata. “Se não me diz qual é, a gente fica na especulação. O Exército não é instrumento para resolver questões políticas nem jurídicas. Se você tem diferença com o governador, resolva com o governador, não tem nada a ver com as Forças Armadas”, disse Santos Cruz.
“Temos assistido há muito tempo: qualquer desavença, crise entre Poderes, etc, o Executivo já fala em Forças Armadas. Foi uma distorção ou é uma falta de capacidade política de resolver as coisas, porque não é possível resolver as diferenças com Forças Armadas”, acrescentou o ex-ministro.
Sustentação política
Na avaliação de Santos Cruz, a reforma ministerial também sinaliza os movimentos do presidente Jair Bolsonaro rumo à tentativa de reeleição. Mas essa estratégia não pode incluir a politização dos militares. “Na área política sim, uma nova ministra na secretaria de governo para ter articulação política, porque isso tudo são arrumações políticas. Na parte de Forças Armadas, não tem sentido vincular apoio político com reforma em comando de Força Armadas”, ressaltou.
O general repudiou a ideia de enquadrar os militares para ter sustentação política. “Muita gente comenta que Bolsonaro mudou com o seguinte raciocínio: 'Olha, se der errado na política, eu me sustento com o Exército, Marinha, Aeronáutica e posso partir para o enfrentamento com os governadores, colocando o Exército nas ruas para garantir a livre circulação das pessoas. Pelo menos é isso que muita gente bem dizendo nos bastidores”, criticou.
Santos Cruz lembrou os eleitores é que dão sustentação política aos eleitos. “Os eleitores votaram, deram legitimidade no mandato para governar, agora você tem que governar. Você não pode receber os votos dos seus eleitores, ser legitimamente eleito e não responder àquilo que os eleitores estavam pedindo, ou que você prometeu. Forças Armadas não são para sustentação política. Sustentação política é a lei, é a negociação política, é estabelecer os parâmetros da negociação política é dar exemplo, não tem nada a ver com o militar. Isso aí é uma distorção absurda, do comportamento político”, termina.
*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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