Aumentar a carga tributária para reduzir o endividamento não é uma escolha sustentável no médio prazo, restando a estratégia de corte nos gastos para o Brasil voltar a crescer. Assim defendeu Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, ao participar ontem do Correio Talks. “Aumento de impostos só se justifica com alocação boa dos recursos, mas o Estado gasta mal. Além disso, já existem sinais de insatisfação social crescente e de falta de credibilidade. Essa escolha levaria a um problema macroeconômico sério”, sustentou. “E o momento é extremamente crítico”, disse.
Ramos não se referia à pandemia. “O Brasil conseguirá resolver o problema pandêmico, mais cedo ou mais tarde, com vacinação e imunidade de rebanho, e voltará ao normal. Voltar às condições normais, no entanto, significa retornar ao problema endêmico do país, que são os baixos níveis de produtividade, de crescimento e de investimento”, explicou.
Por isso, o grande desafio para o pós-pandemia, segundo o especialista, é tirar o Brasil da endemia de baixo crescimento, que afeta o país há décadas. “Isso vai definir o futuro. E para chegar lá, é preciso fazer as reformas pendentes e o ajuste fiscal, a fim de reduzir o endividamento”, assinalou. “O país gasta muito, tributa demais e investe pouco. Essa combinação é preocupante”, disse.
Prejuízo
Para contabilizar o que deixou de ganhar por conta de anos de baixo crescimento, Ramos lembrou que, de 2012 a 2019, (excluindo 2020 por causa da pandemia), a média anual de alta no Produto Interno Bruto (PIB) foi de 0,4%. “O governo não resolveu os principais problemas estruturais: infraestrutura, segurança pública, educação, investimento. A única coisa em que mostrou excelência foi assinar cheques”, criticou.
Se tivesse crescido 3% em média — o que o especialista considera um índice até moderado com a realização de reformas e de ajuste fiscal —, o país não teria perdido a possibilidade de acumular riqueza da ordem de 27% do PIB em oito anos. Com a queda de 4% do PIB em 2020, Ramos arredondou para um prejuízo de 30%. “Como PIB foi de US$ 2,1 trilhões, a perda, ao não crescer uma média de 3% ao ano, foi de US$ 630 bilhões, ou R$ 3,2 trilhões, a um câmbio real de R$ 5. Há 190 economias no mundo e US$ 630 bilhões é um valor mais elevado do que o PIB de 175. Isso dá uma ordem da magnitude do desastre”, comparou.
Ramos ainda contabilizou o quanto cada brasileiro poderia ter ganhado sem esse prejuízo gigantesco. “O Brasil tem 210 milhões de habitantes. Se fosse dividir per capita essa riqueza que deixou de ganhar, dava para mandar um cheque de US$ 3 mil ou de R$ 15 mil para cada habitante. Como há 73 milhões de famílias, seria de US$ 8,8 mil ou de R$ 43 mil para cada. Se concentrasse nos 20% mais pobres, o país poderia pagar R$ 200 mil às famílias. Isso dá uma ideia do que perdemos com o mau manejo macroeconômico e com a falta das reformas estruturais”, finalizou.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.