A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) fez um desabafo em sua fala na sessão temática do Senado que interpelou empresas produtoras de vacina contra coronavírus. Os parlamentares convidaram as fabricantes e a Fundação Oswaldo Cruz para falar sobre o cronograma de entrega de imunizantes para o combate à pandemia no Brasil. Gabrilli falou pouco depois do balanço de mortes diárias por coronavírus, que chegou a 3.251 mortes. Gabrilli fez referência direta ao presidente da República. "Pra mim, Jair já era", disse.
A senadora também destacou que tem amigos intensivistas de unidades de terapia intensiva que trabalham ininterruptamente há um ano e sofrem com depressão. Gabrilli lembrou que, por diversas vezes, Bolsonaro menosprezou a pandemia, trabalhou contra as medidas de distanciamento e atacou até mesmo a vacina. Nos últimos dias, pressionado, o presidente tem usado máscara, mas, como afirmou a tucana, segue provocando aglomerações, como a deste domingo (20/3), na ocasião de seu aniversário.
“Para qual hospital Bolsonaro sugere encaminhar as pessoas que se contaminaram no aniversário dele?”, disparou a parlamentar. “Porque o senhor não vai visitar o hospital? Porque não vai ver a gripezinha? Vai ver os corpos dos entes queridos acumulados nos corredores. Em vez disso, vai aglomerar, matar mais gente? Esperamos um presidente que tenha um pingo de amor para dar. Já morreram quase 300 mil pessoas. Exigimos respeito! Exigimos que a vacina seja prioridade nacional. O meu sentimento hoje é que Jair já era”, desabafou.
A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senadora Kátia Abreu (PP-TO), também disse, em sua fala, que o governo “errou feio”. Ela chamou os países parceiros do Brasil, em especial, Estados Unidos e China, para que ajudem o país a conter a pandemia e impeçam que as variantes brasileiras cheguem a outros países. “Poderemos sofrer muito, temos muitas perdas, mas não esqueceremos quem nos estendeu as mãos ou quem nos virou as costas. Sabemos ser gratos e leais aos países que ajudarem ao Brasil”, disse.
“Agora é a hora de mostrar eficiência de capacidade geopolítica. O Brasil não é uma ilha de acampamento e turismo perdida no meio do oceano. O Brasil é o Brasil. É com modéstia e humildade, mas com altivez que eu conclamo a esses países”, disse. Em seguida, a senadora criticou o governo, em especial o Ministério da Saúde e o Itamaraty.
“Não interessa a diplomacia brasileira nesse momento. A diplomacia de Brasília não é a brasileira. A diplomacia do status quo que cometeu erros, o governo, o Ministério da Saúde não diz respeito aos brasileiros. (O governo) é momentâneo. A democracia nos impõe momentos difíceis. Temos que conclamar a União Européia, OMS, Estados Unidos, que tem reserva (de vacinas), a China. Somos o maior parceiro dos EUA na América Latina. Isso não significa nada? Essa reserva e estoque de vacinas poderia ser transferida não só por uma questão humanitária, mas por uma questão de segurança mundial”, alertou.
Kátia Abreu destacou que o país não quer ser um risco para o mundo, e que tem relevância internacional, dentre outros motivos, por ser o maior exportador de alimentos, e que vai produzir metade dos alimentos para os próximos 2 bilhões de habitantes do planeta acrescidos à população mundial até 2050.
“Somos guardiões da maior floresta tropical do planeta, e isso não vale nada? Isso tem que valer. É hora de priorizar a vacina, o povo, a política a gente resolve depois. Isso, o povo sabe resolver. Não quero saber quem errou, se errou. Errou feio. Mas precisamos olhar adiante e chamar atenção. Governo não é executivo, é Executivo, Legislativo e Judiciário, e se eles (governo Bolsonaro) abriram mão da interlocução diplomática, nós não vamos. Vamos ficar de pé para trazer vida e solução aos Brasileiros”, continuou a senadora.
Cronograma
Falaram na sessão, dentre outros, representantes da Pfizer, Jansen, União Química (Sputnik), e Fundação Oswaldo Cruz, que vai produzir vacinas da Oxford/Astrazeneca. Porém, os interpelados apresentaram cronogramas que diferem dos revelados pelo Ministério da Saúde e sem datas precisas. Foi nesse contexto que Kátia Abreu fez a fala. Ela também argumentou que pressionar as empresas será pouco produtivo.
“Eles não têm condições de entregar. Ninguém sabe como os contratos foram feitos, qual é a ordem de entrega. Não adianta apertar por aqui. O parafuso vai espanar. Temos que ir nas reservas de vacina e apelar para a OMS. É lá que está nossa solução. Essa é a hora da verdade. Parceiro econômico, parceiro em todas as situações não deixa amigo de joelho”, conclamou.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, foi a única interpelada a apresentar um cronograma de vacinação concreto. Senadores pediram aos convidados que adiantassem doses para o Brasil. Segundo Nísia, a expectativa de entregas de vacinas pela fundação é de 3,9 milhões em março, 18,8 milhões em abril, 21,5 milhões em maio, 34,2 milhões em junho e 21,8 milhões em julho. Os números diferem do que foi apresentado anteriormente pelo Ministério da Saúde. Trindade explicou que isso ocorre por problemas burocráticos já sanados.
“A projeção que o Ministério da Saúde apresentou com base em dados da Fiocruz, foi uma projeção de uma entrega de 1 milhão de doses/dia. Mas, chegar a esse patamar esbarrou em algumas questões. No início sempre requer ajustes. A chegada do IFA no Brasil é um dos pontos. E cada lote fica 20 dias em teste para avaliar estabilidade e possibilidade de contaminação. Outros contratempos foram superados”, explicou.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.