Após o voto do ministro Kassio Nunes, que entendeu não ser possível declarar a suspeição do ex-juiz Sergio Moro nos processos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, voltou a argumentar sobre o caso e dirigiu duras palavras contra a decisão do colega.
Para Gilmar, existem provas suficientes de que Moro e os procuradores da Lava-Jato, como Deltan Dallagnol, agiram politicamente para condenar o ex-presidente e reduziram as chances de defesa do investigado.
Durante o voto, nesta terça-feira (23/3), o ministro Kassio afirmou que as alegações da defesa de Lula se sustentam em mensagens hackeadas, portanto ilegais. Ele afirmou que não é por se tratar de um caso célebre, que o resultado pode ser influenciado. "Se estivéssemos hoje apreciando provas obtidas por meio ilícito, cujo conteúdo não se sabe se foi ou não alterado, no processo do Francisco, do Raimundo, ou mesmo de um senador ou deputado federal, talvez não estivéssemos aqui discutindo o aproveitamento dessas provas, pois, a esta altura, já estariam rechaçado se desentranhados dos autos. E o que deveria mudar no caso sob análise? Por ser um HC extraído da Lava-Jato, ou por ser o julgamento de suspeição do ex-juiz Sergio Moro, isso autorizaria uma suspeição, mudança de entendimento? Absolutamente não", disse.
Algum dos senhores aqui compraria um carro do Moro?
Para o ministro Gilmar, o caso envolvendo Moro e Lula é um escândalo que "desmoraliza"o Poder Judiciário. "Eu já disse aqui, ou o hacker é um ficcionista ou nós estamos diante de um grande escândalo, e não importa o resultado deste julgamento, a desmoralização da Justiça já ocorreu, o Tribunal de Curitiba é conhecido mundialmente como um tribunal de exceção. Não precisa de rescisória, a desmoralização já ocorreu, porque ninguém é capaz de dizer. Algum dos senhores aqui compraria um carro do Moro? Algum dos senhores seria capaz de comprar um carro do Dallagnol? São pessoas de confiança?", indagou Gilmar.
Ele rebateu o ministro Kassio, e chegou a fazer referência à falta de coragem de um magistrado. "Não se trata de ficar brincando de não conhecer de habeas corpus. É muito fácil não conhecer de um habeas corpus. Atrás, muitas vezes, da técnica de não conhecimento de habeas corpus, se esconde um covarde. E Rui (Barbosa) falava: o bom ladrão salvou-se, mas não há salvação para o juiz covarde", completou.
O ministro Kassio Nunes reclamou que Gilmar fez referência ao Piauí, estado onde ele nasceu, e disse que ficaria calado por respeitar opiniões contrárias à sua.
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