O Senado divulgou uma moção de apelo pedindo ajuda internacional para o Brasil lidar com o avanço e as mortes por covid-19. No texto, aprovado por unanimidade entre os senadores, há diversos alertas. Um deles é que o Brasil se tornou o epicentro mundial da pandemia, superando, nessa semana, “a alarmante média móvel de 72 mil novos casos e mais de 2 mil óbitos por dia”. Os dados foram confirmados pela Organização Mundial de saúde.
Outro alerta é o do ritmo de imunização do Brasil. Após o presidente da República, Jair Bolsonaro, recusar vacinas, dizer a eleitores que não iria comprar os imunizantes, comemorar a suspensão de testes com um dos medicamentos, provocar aglomerações e criticar medidas de isolamento social, o número de contaminados e mortos vem crescendo desde dezembro de 2021, e há risco de colapso no sistema de saúde de diversos estados.
“O país reclama atenção emergencial do mundo. Nosso ritmo de imunização é insuficiente para conter a propagação da doença. Até o momento, menos de 5% dos 210 milhões de brasileiros foram vacinados. Dependemos de vacinas e insumos farmacêuticos ativos (IFA) importados, que chegam em ritmo lento, se comparado ao desafio posto pela segunda e devastadora onda da pandemia no Brasil”, admitem os senadores na moção.
Senadores destacam no texto, ainda, que as fronteiras entre os países nem sempre protegem a propagação do vírus e o surgimento de variantes. Basicamente, os parlamentares estão alertando o mundo sobre o surgimento de novas cepas no Brasil que podem agravar situações em outras nações. “A única defesa é a cooperação internacional, com a vacinação urgente de nossa população”, destaca o documento.
“Deixar que o povo brasileiro continue a morrer sem vacinas significa uma agressão a todas as tradições humanas. É o oposto de tudo o que a civilização representa. (....) Impõe o medo e compromete a tranquilidade e segurança de todos os países. Em todos os momentos dramáticos da história do mundo o Brasil deu sua contribuição. Agora, precisamos contar com a comunidade internacional, em especial dos países produtores de vacinas, bem como dos detentores de estoques estratégicos”, continua a moção.
Ações do parlamento
Com a inaptidão do governo em enfrentar os problemas, coube ao Congresso tomar a frente no combate à pandemia. Além da moção, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) enviou uma carta à senadora e vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, pedindo “autorização especial para a aquisição, pelo governo brasileiro, de doses de vacina estocadas nos EUA e ainda sem previsão de utilização”. Em ambos os casos, a articulação coube à presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) da Casa, a senadora Kátia Abreu (PP-TO).
“Estamos apelando ao mundo duas questões. A mais importante, é uma questão humanitária. O número de mortes que o Brasil se encontra hoje. O mundo não pode assistir os brasileiros morrerem na fila de espera da vacina”, afirmou a parlamentar. “Também apresentamos um risco altíssimo de contaminação. Inclusive de novas cepas se espalharem pelo mundo. Não queremos nada dado. Queremos que os fabricantes nos adiante as doses”, explicou a senadora.
De acordo com Kátia Abreu, a intenção é que as empresas, ou países que tenham medicamento no estoque possam enviar ao Brasil até 70 milhões de doses para que os municípios terminem de vacinar a população com mais de 60 anos. A intenção é conseguir os imunizantes fora do cronograma das empresas. “Seria extraordinário. Daria uma folga para hospitais e leitos. Não temos mais onde internar o povo. O médico infectologista doutor David Uip já afirmou que vacinado essa faixa etária, já conseguiríamos conter o vírus e as mortes”, lembrou a parlamentar.
A presidente da CRE destacou, ainda, que o Brasil “não quer ser especial”. Após a vacinação, o país pode estudar formas de repor os estoques de outras nações, por exemplo. “Depois, podemos devolver a vacina. É um momento de altíssima gravidade. Estou muito esperançosa de que a gente possa levar essa comoção ao mundo. Vamos mobilizar dezenas de instituições, começando como OMS, ONU, Banco Mundial, embaixadores nossos no mundo e embaixadores estrangeiros no Brasil. Todo mundo sabe da situação do Brasil. Não estamos exagerando”, disse.
Confira, na íntegra, o texto da moção:
MOÇÃO DE APELO À COMUNIDADE INTERNACIONAL
No momento em que a sombra nefasta da morte paira sobre milhões de brasileiros, e que novas formas do vírus da Covid 19 se tornam uma assustadora ameaça global, apelamos à comunidade internacional.
O Brasil se tornou o epicentro mundial da pandemia. Dados confirmados pela OMS mostram que superamos nesta semana a alarmante média móvel de 72 mil novos casos e mais de 2 mil óbitos por dia.
O país reclama atenção emergencial do mundo. Nosso ritmo de imunização é insuficiente para conter a propagação da doença. Até o momento, menos de 5% dos 210 milhões de brasileiros foram vacinados. Dependemos de vacinas e insumos farmacêuticos ativos (IFA) importados, que chegam em ritmo lento, se comparado ao desafio posto pela segunda e devastadora onda da pandemia no Brasil.
Nesta crise sanitária sem precedentes que atinge o mundo, barreiras fronteiriças não nos podem proteger da propagação do vírus e do surgimento de possíveis variantes. A única defesa é a cooperação internacional, com a vacinação urgente de nossa população.
Semelhante situação impõe ao Senado Federal a tarefa de fazer aos demais países um doloroso alerta: o avanço da pandemia no Brasil representa risco real para o mundo.
Deixar que o povo brasileiro continue a morrer sem vacinas significa uma agressão a todas as tradições humanas. É o oposto de tudo o que a civilização representa. Destrói os princípios de convivência humana. Impõe o medo e compromete a tranquilidade e segurança de todos os países.
Em todos os momentos dramáticos da história do mundo o Brasil deu sua contribuição. Agora, precisamos contar com a comunidade internacional, em especial dos países produtores de vacinas, bem como dos detentores de estoques estratégicos da mesma.
A ordem internacional pode mostrar que é capaz de enfrentar os desafios com uma visão grandiosa, baseada na paz, na solidariedade, na tolerância, e na razão que é a matriz de todo o direito. Só assim vamos seguir adiante com o fortalecimento de uma consciência de cidadania planetária, alicerçada em valores universais.
SENADO FEDERAL
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.