Agência Estado
postado em 17/03/2021 16:13 / atualizado em 17/03/2021 16:22
O governo do presidente Jair Bolsonaro cedeu a uma pressão do Congresso e concordou em repassar o controle de uma fatia maior do Orçamento federal aos parlamentares. Em sessão nesta quarta-feira (17/3) os deputados votaram para derrubar um veto do presidente e autorizar o pagamento de emendas parlamentares indicadas pelo relator-geral do Orçamento e pelas comissões do Legislativo. A proposta dependerá agora do Senado, que deve realizar a votação ainda na tarde desta quarta-feira.
Na prática, a retomada desse dispositivo, aprovado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e barrado pelo Planalto, abre caminho para o Congresso aumentar a quantidade de recursos escolhidos pelos deputados e senadores com pagamento obrigatório. O acordo foi fechado entre líderes partidários após bancadas da Câmara e do Senado abrirem uma negociação para ampliar os recursos com a digital dos congressistas. O volume total de emendas vai depender da votação do Orçamento no Congresso Nacional, que deve ser concluída até a primeira semana de abril.
O pagamento das emendas de relator e das comissões divide técnicos do governo e do Congresso Nacional. Líderes do Centrão argumentam que o "dever de execução" do Orçamento, previsto na Constituição, e a previsão dessas emendas na LDO torna o repasse impositivo. Uma nota das consultorias da Câmara e do Senado editada nesta semana, porém, avalia que a derrubada do veto não torna essas transferências obrigatórias.
Em 2020, após Bolsonaro sancionar um dispositivo semelhante ao que foi aprovado agora, o governo garantiu o pagamento das emendas colocadas pelo relator e pelas comissões no Orçamento, com o temor de que pudesse ser acusado de crime de responsabilidade.
A derrubada do veto representa uma derrota para o presidente Bolsonaro, pois aumenta a pressão para o governo gastar em um período de orçamento apertado e risco para o teto de gastos, que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Por outro lado, o Palácio do Planalto costurou um acordo para manter outros vetos estratégicos, como o que daria blindagem orçamentária para órgãos chefiados pelo Centrão na esfera federal.
Além disso, com o acordo, o governo espera aprovar ainda nesta quarta-feira um projeto de lei que autoriza a execução de uma série de despesas antes da aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA). O argumento é destravar parte de um montante de até R$ 453,7 bilhões e permitir o pagamento de salários e de outras despesas essenciais a partir de março. O Ministério da Economia afirma que, sem a proposta aprovada, não terá dinheiro para esses gastos obrigatórios.
A derrubada do veto abre caminho para os parlamentares aumentarem o volume de emendas neste ano. O parecer preliminar do Orçamento, apresentado pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC) e aprovado na Comissão Mista de Orçamento (CMO), reserva um total de R$ 35,6 bilhões para emendas de relator e mais um saldo de R$ 1,5 bilhão para distribuição de indicações entre congressistas, que também abrigará as emendas indicadas pelas comissões.
Do total de emendas, apenas R$ 16,2 bilhões seriam impositivos, ou seja, com pagamento obrigatório. Mas, com a derrubada do veto, o volume pode crescer. Em função do teto de gastos, o aumento das emendas vai depender de cortes que o Congresso terá de fazer nas despesas previstas inicialmente pelo governo.
"O processo gradativo de autonomia do Orçamento foi defendido, inclusive pelo governo, em vários momentos na impositividade. Isso proporcionou, e aí há mérito do governo, uma execução orçamentária já há dois anos recorde no país com recursos destinados por parlamentares de todos os partidos, de todas as correntes, aos seus municípios e estados", afirmou o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), durante a sessão.
Bolsonaro é recordista no pagamento de emendas parlamentares. Em 2020, o Executivo reservou (empenhou, no jargão técnico) um total de R$ 35,4 bilhões em recursos indicados pelos parlamentares no mesmo ano. Os pagamentos de fato totalizaram R$ 16,1 bilhões. O montante superou qualquer ano anterior.
Troca
Para derrubar o veto das emendas, os deputados mantiveram outro veto do Palácio do Planalto, também na LDO, à blindagem orçamentária de órgãos chefiados pelo Centrão. Esse dispositivo, barrado pelo Executivo, faz com que determinadas autarquias — todas elas comandadas por indicados do Centrão — tenham o mesmo tratamento de ministérios na hora de definir bloqueios orçamentários ao longo do ano. Esses órgãos têm um orçamento previsto de R$ 35 bilhões em 2021, justamente o valor que as emendas de relator podem atingir. Ou seja, uma coisa compensaria a outra.
Se a medida fosse aprovada, ficariam protegidos a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), controlada pelo DEM, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ocupado pelo Progressistas, o Departamento Nacional de Obras Contra Secas (Dnocs), presidido por um indicado do PL, e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), loteada pelo PSD.
Ampliação
A Câmara também votou para derrubar outros vetos de Bolsonaro à LDO e aumentar o poder de destinação das emendas parlamentares para redutos eleitorais. Esses recursos, indicados por deputados e senadores no Orçamento, servem como moeda de troca para o Executivo conquistar votos na aprovação de projetos estratégicos no Congresso.
Os líderes fizeram um acordo que aumenta o poder de ministérios do governo para empenhar e garantir recursos para obras de interesse eleitoral ainda em 2021 que só serão pagos em anos seguintes. A digital desse dispositivo é atribuída ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, escolhido por Bolsonaro para tocar obras em diferentes regiões do País e aumentar a popularidade do chefe do Planalto.
O veto a esse item acabou sendo mantido na votação da Câmara. O deputado Domingos Neto (PSD-CE) afirmou que houve um erro formal na votação e que, na verdade, o acordo de lideranças previa a derrubada desse veto. O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), atendeu ao questionamento e determinou a revisão no resultado.
Outro item recuperado pelos parlamentares na LDO permite o empenho de recursos reservados a emendas parlamentares antes do licenciamento ambiental das obras. Além disso, municípios com até 50 mil habitantes receberão os repasses mesmo se estiverem inadimplentes, ou seja, com dívidas atrasadas.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.