O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, garante que não há nenhum tipo de problema entre o governo chinês e o governo brasileiro, mas criticou a postura da China nos embates com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), nos quais o Itamaraty interviu. O último foi em novembro, quando o parlamentar fez uma série de publicações em sua rede social que acusava a China de espionagem via 5G, ao que a embaixada chinesa respondeu manifestando repúdio ao comportamento do parlamentar, e que a postura prejudicava a relação entre os dois países. Na ocasião, o Itamaraty enviou uma carta chamando a resposta chinesa de ofensiva e desrespeitosa.
Sobre o caso, o ministro disse que a resposta foi fora da prática diplomática, mas que o Itamaraty queria chamar atenção para isso. “Acho que foi entendido pela Embaixada da China, que não voltou a ter esse tipo de atitude. É importante que cada embaixada atue de acordo com a prática diplomática respeitando a legislação local. Então, isso que existe, não gerou nenhum tipo de problema com a China. Essa nossa ‘chamada de atenção’, em duas ocasiões em relação à embaixada da China, acho que tivemos um resultado no sentido de uma atuação agora mais correta por parte da embaixada da China”, afirmou.
As falas foram proferidas pelo ministro em uma entrevista coletiva nesta terça-feira (2/3) que durou quase duas horas, na qual Araújo fez um balanço, frisando que existe um entendimento equivocado de que a postura da atual gestão prejudica as relações brasileiras. Ainda em relação a Eduardo Bolsonaro, o ministro afirmou que a situação foi relativa à liberdade de expressão — ou seja, que as críticas do parlamentar fazem parte da liberdade de expressão que existe no Brasil. Ele pontuou que, na época, o Itamaraty fez uma escolha por uma “opção diferente” ao entrar em um embate de redes sociais.
Houve um outro embate entre Eduardo Bolsonaro e a embaixada em março do ano passado, quando o parlamentar culpou o governo chinês pela disseminação do novo coronavírus. Na época, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, repudiou as declarações, chamando-as de irresponsáveis, e dizendo que quando voltou da viagem que havia feito recentemente aos EUA, ele “contraiu vírus mental que está infectando a amizade” entre os dois países. O Itamaraty, por sua vez, disse que a resposta da embaixada chinesa foi inaceitável.
Nesta terça-feira, Ernesto Araújo garantiu que a relação com a China é muito boa, muito produtiva, e que não houve qualquer tipo de problema que tivesse atrapalhado a importação de insumos para a produção de vacina contra a covid-19, como foi falado no início do ano, quando houve uma dificuldade na liberação dos produtos de lá para o Brasil.
Sob sua gestão, segundo ele, o Brasil conseguiu avanços em sua relação com a China, como acesso a alguns novos produtos agrícolas. “Tenho certeza que a interlocução que tive com autoridades chinesas contribuiu para esses resultados”, disse.
Sem atritos
De acordo com ele, essas questões envolvendo a embaixada chinesa não significam qualquer tipo de atrito com o governo chinês. “E as críticas que eu fiz do ponto de vista da atuação da embaixada chinesa, sempre deixei claro aos interlocutores chineses que nosso objetivo era ter uma melhor relação possível com a China”, disse, afirmando que a sua preocupação era de que ações da embaixada chinesa estivesse prejudicando a relação Brasil-China, e prejudicando a própria imagem da China.
“É um interesse básico da China, mas queria chamar atenção para isso. Se você olhar a imagem da China na opinião pública brasileira, hoje e antes dessas manifestações da embaixada chinesa, acho que infelizmente há um decréscimo, uma imagem hoje que é pior em relação à China e que foi criada, eu acho, exclusivamente por esse tipo de atuação que eu acho que está superado”, pontuou.
O governo brasileiro chegou a fazer pedidos de troca do embaixador da China no Brasil. Sobre isso, o ministro preferiu não comentar, dizendo apenas que a situação está superada, e que a embaixada tem atuado de maneira correta. “A nossa atuação foi para contribuir para melhorar as relações, evitar que determinada maneira de agir por parte da Embaixada da China prejudicasse as relações. Isso foi superado”, afirmou, reiterando que a embaixada ajudou no trabalho político e que não houve problema algum em relação à compra de insumos para vacina.
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