Apesar de, por vezes, reclamar das dificuldades do cargo que ocupa, o presidente Jair Bolsonaro não consegue esconder que está focado na reeleição, em 2022. Um dos grupos que dão suporte ao chefe do Executivo, o dos militares, já tem, inclusive, procurado estratégias para tentar pavimentar o caminho rumo à recondução. O bloco ressalta, no entanto, que o mandatário tem de moderar o discurso, esquecer as picuinhas e investir na recuperação econômica do país.
No período de pré-eleição no Congresso, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, ajudou na articulação com o Centrão para que os aliados do Planalto saíssem vitoriosos da corrida pelos comandos da Câmara e do Senado — de olho na aprovação de pautas de interesse do Executivo. Na semana passada, em entrevista ao Estado de S. Paulo, o general relatou não ter se arrependido da aliança com o grupo de parlamentares, apesar do mal-estar causado entre os militares. Ramos alegou que “não se envergonha” e que os oficiais da ativa das Forças Armadas entendem o “momento político” pelo qual passa o governo.
Ao longo do mandato de Bolsonaro, porém, militares deixaram o Planalto disparando críticas contra o presidente, caso de Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, e Rêgo Barros, ex-porta-voz da Presidência. “Conheço muitos militares que não votaram no Bolsonaro quando era deputado e continuam não votando. As Forças Armadas não são um bloco único”, disse um oficial sob a condição de anonimato. “A preocupação é de que haja descolamento político das Forças Armadas em relação ao governo. Os governos passam, e as FAs continuam. Existe essa preocupação com a imagem.”
Ele destacou, porém, ver chances de reeleição, mas que, para isso, o presidente deve melhorar em, ao menos, dois aspectos: a economia e a comunicação. “O governo se comunica mal, se articula mal para divulgar informações, e as de relevância, sobre o que o governo faz, acabam não chegando. Bolsonaro terá como desafio moderar o comportamento e a dificuldade em se comunicar. A reeleição também vai depender muito da economia”, observou.
Para manter o apoio dos militares, Bolsonaro retoma bandeiras como a aprovação do excludente de ilicitude, espécie de salvaguarda jurídica para militares que, porventura, matarem em serviço. O item consta na lista de 35 projetos prioritários enviados pelo Planalto ao Congresso.
Perda de nichos
Para o senador Major Olímpio (PSL-SP), ex-aliado de Bolsonaro, a adesão à campanha de reeleição do mandatário será de um grupo significativo de veteranos. Porém — conforme avaliou —, em meio aos policiais da ativa, como militares, civis, penais e policiais federais e rodoviários federais, o chefe do Executivo tem perdido apoio.
“Com esse público, Bolsonaro está criando uma grande rejeição, pois não fez nada a favor. Pelo contrário, com a reforma previdenciária dos militares, eles perderam muito. A tendência é de que continue congelado o salário e a contagem do tempo de serviço para aumento de remuneração e aposentadoria”, afirmou o parlamentar. “Esse povo da segurança pública, a cada dia, vai diminuir mais. A tendência é de abandono do barco. A grande massa, que são ativos, está revoltada porque só está perdendo. A massa significativa de veteranos, aposentados que têm direitos adquiridos, ainda o apoia.”
Na opinião de Major Olímpio, “não vai ter apoio maciço”. “Isso caiu na mesma proporção da credibilidade que ele tinha em 2018. Vejo, dia a dia, o presidente perdendo muitos nichos de pessoas que comungavam com os discursos dele. Para 2022, a vida dos policiais deve ficar pior do que está hoje. O excludente de ilicitude não vai votar.”
O senador destacou que Bolsonaro se elegeu baseado em três pilares: antiesquerda, combate à corrupção e resgate da segurança pública e do direito de legítima defesa. “Os dois itens, com a corrupção e segurança pública, deixaram a desejar. Ficaram só no discurso”, ressaltou. “Ele fez carreira defendendo praças e os pensionistas. É justamente esse público que está se sentindo abandonado. O pessoal da ativa das polícias militares está ensandecido porque não pode fazer reajuste salarial e licença prêmio de policiais no período de março do ano passado até o final de ano, está suspenso.”
Vida infernal
Nas declarações mais recentes, Bolsonaro afirmou, no último dia 2, que a vida dele “é um inferno”. Em 14 de janeiro, o chefe do Executivo confidenciou a bolsonaristas sobre o desafio dos cargos públicos. “Tem gente que acha que ser presidente, ser governador, prefeito, é para comemorar. Não é para comemorar. É um tempo que você vai passar trabalhando, se você quiser, obviamente, trabalhando para o próximo. Não é fácil.”