Apesar dos clamores de apoiadores e de parlamentares da ala radical na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro não deu nenhuma palavra sobre a prisão, decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), um dos mais ferrenhos defensores do presidente da República, por agressões verbais e ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal. O silêncio, segundo uma fonte palaciana, deve-se ao fato de que Bolsonaro foi aconselhado a não tomar lados, ao menos publicamente, sobre a questão.
Isso não quer dizer, porém, que Bolsonaro tenha concordado com a prisão. Ao contrário: ele e integrantes da ala ideológica do governo ficaram irritados com a decisão do ministro Alexandre de Moares, referendada por todos os integrantes do STF. Mas, por conta do temor de eclodir uma crise entre os Três Poderes, a regra foi ficar de boca fechada. Afinal, neste momento, o Palácio do Planalto procura conviver cordialmente com o Supremo e precisa do Congresso para fazer andar não apenas a pauta que inclui as reformas administrativa e tributária, mas, sobretudo, o novo auxílio emergencial — além de assuntos caros aos bolsonaristas, como a MP das Armas. Uma posição explícita do presidente, a favor de um lado ou de outro, poderia ser vista como uma indevida interferência em um assunto que cabe ao STF e à Câmara decidirem.
Sem garantias
Bolsonaro, no entanto, é conhecido por criticar decisões do Supremo contra assuntos que fazem parte da chamada “pauta de costumes”. O presidente recebeu a notícia da prisão do deputado quando ainda estava em São Francisco do Sul, onde passou o feriado de Carnaval. No entanto, auxiliares não garantem se ele seguirá à risca a recomendação, pois o consideram “imprevisível” e de “sangue quente”.
Assim, a expectativa é de que Bolsonaro aguarde o posicionamento dos outros poderes, pois, diante do conteúdo dos vídeos do parlamentar agredindo verbalmente os 11 ministros da Corte, auxiliares afirmam que o governo não consegue e nem pode “defender o indefensável”. Essa tarefa deverá ser cumprida pela ala bolsonarista extremista, dizem fontes do Palácio.
Do clã Bolsonaro, o único a se posicionar –– assim mesmo de forma discreta, quase enigmática –– foi o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Sem citar diretamente o caso, por meio das redes sociais se limitou a dizer que “sentia o estômago embrulhado como não sentia há tempos”. Mas não citou o deputado, nem tampouco o ministro Alexandre de Moraes, o episódio da prisão ou mesmo o STF.
A ordem de prisão em flagrante foi expedida por Alexandre de Moraes, após Silveira divulgar vídeo ofendendo e ameaçando os integrantes da Corte de serem agredidos na rua. Também defendeu a destituição dos ministros e desferiu vários xingamentos contra eles e o STF.
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