CORONAVÍRUS

Anvisa nega interferência do Planalto em mudança de regra sobre vacinas

"Nem do planalto, nem do vale, nem da montanha, nem da planície, nem de ninguém. Nenhum acidente geográfico nos pressionou", disse Antônio Torres. Agência retirou necessidade de estudo fase 3 no Brasil para aprovação de vacina contra a covid-19

Sarah Teófilo
postado em 04/02/2021 19:51
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Torres, negou, em entrevista ao Correio, nesta quinta-feira (4/2), que tenha havido pressão por parte do Palácio do Planalto para que a agência retirasse a exigência de estudo fase 3 no Brasil para a aprovação de vacinas contra a covid-19. "Nem do planalto, nem do vale, nem da montanha, nem da planície, nem de ninguém. Nenhum acidente geográfico nos pressionou", afirmou.

Na última quarta-feira (3), a agência excluiu a exigência de pesquisa clínica no Brasil, medida que facilita a aprovação de uso emergencial da vacina russa Sputnik V. A ação se deu em meio a pressões de parlamentares e partidos sobre a agência, ainda que Torres negue. Na quarta-feira, o partido Rede Sustentabilidade pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que cobrasse da Anvisa a justificativa para exigir estudos da fase 3 da vacina russa no Brasil.

Além da pressão dos partidos, o próprio presidente Jair Bolsonaro vinha falando no imunizante. "Se a Anvisa aprovar, a gente vai comprar a Sputnik. Tem um 'cheque' meu, assinado em dezembro, de R$ 20 bilhões para comprar esse material", disse a jornalistas no último sábado.

Em meio a dificuldades para a importação de insumos da China necessários para a produção da vacina de Oxford/Astrazeneca, produzida no Brasil em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o governo federal tem dependido da Coronavac, imunizante com o carimbo do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), adversário político de Bolsonaro.

"As coisas são dinâmicas"

Torres, entretanto, garante que a agência não foi pressionada por ninguém — nem direta, nem indiretamente. Em documento assinado por ele no dia 22 de janeiro e encaminhado ao Supremo Tribunal Federal no âmbito da ação direta de inconstitucionalidade (ADI) 6661, do governo da Bahia sobre aquisição de vacinas e questionando especificamente sobre o caso da Sputnik, Torres fala justamente sobre a importância do estudo fase 3. No texto, ele ressalta que na fase são realizados testes “em grandes populações para avaliar a sua segurança e a sua eficácia, com o objetivo de comprovar que, de fato, a vacina é capaz de proteger contra a doença”.

O presidente da Anvisa afirma que o guia que sofreu alteração na quarta-feira foi publicado recentemente, no dia 2 de dezembro do ano passado, e vinha sendo discutido ao menos desde novembro. “As coisas são dinâmicas. E a nossa obrigação enquanto gestores e técnicos é: se surgir uma possibilidade de facilitar, por quê não?”, afirmou.

De acordo com ele, a mudança não se trata de abolir o estudo fase 3, mas deixar de exigir esta fase do estudo no Brasil. “Mas ele foi realizado no país de origem, desde que tenhamos acesso completo e transparente a todos os dados desse estudo, nós temos condição de analisar. E se entendermos amanhã, daqui a meia hora, 15 minutos, que é possível flexibilizar mais ainda para termos mais vacinas de boa qualidade, e em curto prazo, nós vamos fazer e sem problema nenhum”, argumentou Torres.

Questionado sobre a mudança de entendimento da Anvisa em um intervalo de 13 dias, Torres afirmou que discussões ocorrem todos os dias na Anvisa. “A gente não passa nenhum dia sem reunir. Quando o Supremo nos pede documento, temos que dar aquilo que é fato, aquilo que está em documento. Agora, as discussões sobre a possibilidade de flexibilizar, já vinham desde antes”, esclareceu.

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