Congresso

Maia acusa Bolsonaro de querer transformar Câmara em anexo do Planalto

A crítica ocorreu após fala de Bolsonaro, que disse que vai, "se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara". Maia afirmou que os Poderes precisam ser independentes

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) fez críticas à declaração de Jair Bolsonaro, que afirmou que o chefe do Executivo tem a intenção de influir na presidência da Câmara. Em uma live para a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), Bolsonaro afirmou que vai, “se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara”. Para Maia, o mandatário quer transformar o parlamento em um puxadinho do Palácio do Planalto.

De acordo com Bolsonaro, a intromissão seria para “ ter um relacionamento pacífico e produtivo” para o Brasil. O relacionamento conturbado com o Legislativo, porém, sempre foi uma marca do próprio presidente da República, que chegou até a participar de manifestações antidemocráticas que pediam o fechamento do Congresso.

“É um alerta aos deputados e deputadas, que a intenção do presidente é transformar o parlamento em um anexo do Palácio do Planalto, o que enfraquece o mandato de cada deputado e o protagonismo da Câmara nos debates com a sociedade. Precisamos de um candidato que dialogue, que tenha equilíbrio, como o Baleia, O Baleia não é oposição”, respondeu Rodrigo Maia na tarde desta quarta-feira (27/1).

"Outro poder"

Ele seguiu insistindo que “o parlamento é outro poder, e sendo outro poder, cada mandato se dá com a liberdade que o presidente da Câmara tem para definir a pauta, junto com a sociedade, o governo, mas, principalmente os 513 deputados e deputadas”. Maia também criticou a fora com que o governo está lidando com as eleições. Disse que o Executivo não conseguirá cumprir as promessas de emendas que está fazendo por apoio ao candidato Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão, e que só se preocupou em construir uma base para conquistar a presidência.

“Uma coisa é a formação de uma base para governar com os partidos que fazem parte dessa base. Outra, é ser minoria e no processo eleitoral tentar construir uma maioria baseada em troca de cargos e emendas. Se tenho um bloco de 300 deputados de 10 partidos na minha base de governo, é natural que eles participem do governo com uma participação maior que os da oposição, indicando, dando ideias. Outra coisa é ser minoritário e tentar formar uma maioria na base da pressão, da ameaça e da troca de emendas”, criticou Maia.

O presidente da Câmara afirmou, ainda, que o governo teria que levantar R$ 20 bilhões para cumprir as promessas de emendas parlamentares. Trata-se de uma estratégia de alto risco fiscal, com a possibilidade  de romper o teto de gastos logo nos primeiros meses. “Cada dia que passa, as pessoas vão vendo que serão enganadas nesse toma lá dá cá. Está abrindo cadastro em três ministérios. Dois é natural. Mas MDR nunca abriu cadastro em janeiro. É para gerar uma expectativa. Vai ser difícil o que prometeram, encaixar no orçamento primário. Vai ser um problema grande se eles vencerem a eleição. R$ 20 bilhões de extra é uma promessa que o governo não tem nenhuma condição de cumprir”, previu o deputado demista.

“Além do toma lá dá cá, é uma peça de ficção, achar que o parlamento vai estar disposto a isso. O parlamento está disposto a participar do governo. A liberar recursos para suas bases. Vencendo ou perdendo, não vai dar certo. Não há espaço fiscal nem de R$ 10 bi, R$ 15 bi, ou R$ 20 bi, para cumprir uma promessa em um ano que você tem de rombo no teto de gastos uma previsão de R$ 30 bi. Cortando aposentaria, R$ 20 bi, auxílio emergencial no teto, mais R$ 20 bi, e mais as emenda prometidas, tudo dá R$ 60 bi. Como cortar para encaixar nesse orçamento, que R$ 1,4 trilhão é de pessoal e R$ 80 bi é custeio discricionário, o que já explode o teto?”, questionou.