Pandemia

Terraplanistas do ministério da Saúde têm de ceder à ciência, diz Dantas

Ministro repercutiu, na sessão plenária do TCU, relatório de Benjamin Zymler, que deu 10 dias para Ministério da Saúde se defender por ter usado dinheiro do SUS para comprar cloroquina

Os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) avaliaram, nesta quarta-feira (27/1), o relatório do ministro Benjamin Zymler, que aponta compra irregular de medicamentos sem comprovação científica pelo Ministério da Saúde com dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS). A pasta pediu 10 dias para apresentar  defesa. O relator do processo concedeu o prazo.

No entanto, vários magistrados manifestaram, na sessão plenária de hoje, preocupação com a utilização e recomendação de remédios, sem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para o tratamento da covid-19. Alguns, como Bruno Dantas, foram bastante incisivos nas suas colocações.

“A falta de planejamento é um dos piores males da gestão brasileira. O gestor despreparado gasta o dobro, o triplo para solucionar problemas. Se existem terraplanistas no Ministério da Saúde, essa gente precisa ceder espaço para ciência imediatamente. Não é possível que tenhamos tratamento como esse para famílias que estão perdendo seus entes queridos. Mais de 200 mil brasileiros mortos. É preciso ter compaixão. É preciso ter empatia. Não é possível que autoridades zombem da dor dos brasileiros”, afirmou Dantas.

Sem amparo legal

Ao apresentar seu relatório aos ministros, o relator, Benjamin Zymler, explicou que a Anvisa não autorizou o registro da cloroquina ou o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina. “Tampouco órgãos internacionais aprovaram. A conclusão preliminar é de que não há amparo legal para uso do dinheiro do SUS para essa finalidade”, afirmou.

Apesar de o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ter negado que a pasta indicava o tratamento precoce com esses remédios e a ivermectina, o aplicativo TrateCOV, lançado pelo ministério e já retirado do ar, orientava o uso desses medicamentos que não tiveram sua eficácia comprovada contra a doença. A recomendação era feita indiscriminadamente em casos suspeitos de infecção pelo novo coronavírus, sem levar em consideração, por exemplo, a idade ou o histórico de saúde do paciente.

Os ministros se posicionaram em apoio ao despacho do ministro Benjamin Zymler, que apontou a ilegalidade do uso de recursos do SUS para a compra de tais remédios, mas o relator concedeu o prazo pedido pelo Ministério da Saúde, de 10 dias, para apresentar explicações.