O presidente Jair Bolsonaro disse, na manhã deste sábado (23/1), que ele e sua família são “perseguidos” pela Rede Globo. “Porque a Rede Globo persegue tanto a mim e minha família. Antonia Fontenelle foi casada com um diretor da Globo, ou seja, fala com propriedade. Tudo o que fiz foi evitar o desperdício de dinheiro público, em respeito ao povo brasileiro”, disse o presidente, pelo Twitter.
Na mesma publicação, Bolsonaro compartilhou o vídeo de uma entrevista da youtuber Antonia Fontenelle, viúva de Marcos Paulo, ex-diretor da TV Globo. Fontenelle fala sobre contenção de gastos na emissora: “A fonte secou. A galera está desesperada e quer tirar o Bolsonaro de qualquer jeito”.
Como de costume, usuários da rede social se manifestaram contra e a favor da fala do presidente. “Aaah, pronto. Agora quem sabe das coisas é a Antonia Fontenelle! Cara, você parece uma velha fofoqueira, bicho”, criticou um internauta. “O mito chegou e a teta secou”, disse um apoiador.
Verbas de publicidade
Em novembro de 2019, a Folha de S. Paulo noticiou que o Tribunal de Contas da União apurava a mudança de lógica de distribuição de verbas publicitárias do Governo Federal para os canais de tevê aberta.
O TCU apontou que o governo Bolsonaro passou a destinar os maiores percentuais de recursos para Record e SBT – emissoras consideradas aliadas ao Planalto, mas que que têm menos audiência – e diminuiu a verba da Globo, canal mais assistido do país.
Em 2017, a Globo recebeu R$ 6,9 milhões de verba publicitária do Governo Federal no primeiro trimestre. O SBT recebeu R$ 1,34 milhão e a a Record ficou com R$ 1,21 milhão.
Em 2018, a Globo faturou R$ 5,93 milhões nos três primeiros meses do ano. Em segundo lugar ficou a Record, com R$ 1,308 milhão. Em terceiro ficou o SBT com R$ 1,1 milhão.
Em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, a Record passou a ser a emissora que mais recebeu dinheiro. O canal do bispo evangélico Edir Macedo, apoiador de Bolsonaro, ficou com R$ 10,3 milhões. O SBT, com R$ 7,3 milhões e a Globo com R$ 7,07 milhões.
A afirmação do presidente sobre “evitar o desperdício de dinheiro público” não converge com os números das despesas governamentais.
No primeiro trimestre do governo Bolsonaro, os pagamentos com publicidade aumentaram 63% em relação ao mesmo período do ano anterior, chegando a R$ 75,5 milhões, sem contar os gastos feitos por ministérios e empresas estatais. Os dados são de um levantamento realizado pelo Uol, com base em informações da Secretaria Especial de Comunicação (Secom), vinculada ao Palácio do Planalto.
Para 2021, os gastos previstos pelo governo para publicidade oficial podem chegar a R$577,1 milhões, segundo levantamento do jornal O Globo, com base em dados do Sistema Integrado e Planejamento e Orçamento do Governo Federal (SIOP) e do Projeto de Lei Orçamentária Anual para 2021 enviado pelo governo ao Congresso Nacional.
Outro levantamento do Uol mostra que, em dois anos de governo, Jair Bolsonaro gastou 17 vezes mais com propaganda no exterior do que todos os governos que o antecederam na última década. O governo Bolsonaro pagou R$ 27,7 milhões, em 2020, e R$ 11,7 milhões, em 2019, para “contrapor percepções equivocadas e descontextualizadas que, por vezes, surgem no cenário internacional”, segundo a Secom.