O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, reconheceu que o governo brasileiro precisa melhorar a relação diplomática com os Estados Unidos, que, a partir desta quarta-feira (20/1), tem Joe Biden como presidente. Na avaliação do general, desde 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu o Palácio do Planalto, a ligação entre os dois países "foi muito feita em termos pessoais" de Bolsonaro com Donald Trump, e isso precisa mudar.
"Temos que ajustar a nossa ligação, que até o presente momento, foi muito feita em termos pessoais. Óbvio, a ligação pessoal é boa, mas não substitui de forma alguma as ligações institucionais, o que sempre houve entre os dois países", disse Mourão, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
De acordo com o vice, é hora de o país deixar para trás o passado com Trump e começar uma relação institucional com os Estados Unidos do zero. "O resultado prático é que nós temos que ter uma forma de reabrir o canal diplomático, de maneira que um posicionamento político de determinado momento não signifique um posicionamento ad eternum. O que ficou para trás, ficou para trás. Vamos zerar e buscar avançar a partir daqui", opinou.
O posicionamento de Mourão não é unanimidade dentro do governo federal, em especial pelo alinhamento ideológico de Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, com Trump. Isso ficou claro quando o presidente brasileiro só reconheceu a vitória de Biden nas eleições de 2020 mais de um mês depois de o democrata ter sido declarado eleito — Bolsonaro foi o último líder mundial a cumprimentar Biden.
Invasão do Capitólio
Outras demonstrações do mandatário deixaram claro o seu descontentamento pela derrota de Trump. Sem apresentar provas, Bolsonaro alegou que o processo eleitoral nos Estados Unidos foi marcado por fraudes, apesar de as autoridades norte-americanas não terem constatado nenhuma irregularidade na eleição do ano passado. Araújo, por sua vez, chegou a defender a recente invasão do Capitólio, sede do Legislativo dos Estados Unidos, por apoiadores de Trump, no dia da cerimônia em que o Congresso confirmaria a vitória de Biden.
Instituições privadas
De todo modo, o vice-presidente alertou para a necessidade de o Planalto mudar o seu posicionamento para preservar as relações bilaterais com os Estados Unidos. "Nós temos que fazer com que essas ligações institucionais sejam dos entes públicos, do Itamaraty, do Ministério da Economia, mas também das instituições privadas, que têm os contatos com os americanos, de modo que a gente volte a ter um posicionamento bem pragmático e bem flexível em relação às políticas que vierem dos EUA", afirmou.