IMPEACHMENT DE BOLSONARO

Maia fala de CPI e impeachment por mortes de covid-19 no Brasil

Presidente da Câmara disse que será inevitável debater os temas. Mas, sobre o impeachment, voltou a lembrar que o debate mobilizará a Casa, e não seria estratégico trazê-lo enquanto se trabalha para fiscalizar o governo e conter a pandemia

O presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que será inevitável que a Câmara ou o Congresso criem uma comissão parlamentar de inquérito para investigar as mortes e a falta de planejamento do governo federal durante a pandemia do novo coronavírus. Outro tema que, segundo ele, deverá surgir no plenário, é o do impeachment do presidente. A fala aconteceu no início da tarde desta segunda-feira (18/1), após uma reunião da Mesa Diretora que decidiu que as eleições da Casa serão presenciais e ocorrerão na noite de 1º de fevereiro.

Maia também criticou o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, escolhido para o cargo por ser especialista em logística, por não ter conseguido se antecipar ao colapso do sistema de saúde de Manaus.

Maia falou da CPI e de Pazuello após ser questionado sobre o posicionamento da Advocacia Geral da União (AGU), que afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que havia notificado o Ministério da Saúde do risco de colapso na capital do Amazonas em 3 e 4 de janeiro e, novamente, seis dias antes do ocorrido.

“Não tem planejamento no governo federal. O presidente (Jair Bolsonaro) mesmo coloca dessa forma. Coloca uma narrativa que o Supremo tirou o poder do governo federal de agir nos estados, e não foi nada disso. O Supremo deixou claro que a coordenação do SUS é do governo federal”, disse.

“Eu sei de laboratório que mandou e-mail durante várias semanas no ano passado, para vender vacina, e não foi nem respondido. E essa vacina está imunizando os Estados Unidos, a Grã Bretanha. Não há planejamento e não se acreditava na importância da vacina. O que me estranha é que quando o ministro Pazuello foi escolhido, acho que ele é um bom militar, o motivo que o levou ao ministério era ser bom de logística, o que se provou um fracasso. Pelo menos até o momento. Se ele fosse bom de logística, teria organizado e planejado, acompanhando os indicadores de crescimento do problema em Manaus e outras regiões, de forma a não faltar insumos para o trabalho dos profissionais de saúde”, criticou Maia.

De acordo com o parlamentar, o ocorrido “vai virar uma grande investigação”. “É inevitável que a gente tenha, pelo menos, uma grande CPI, que seja da Câmara ou do Congresso, a partir de um pouco mais na frente, e certamente essa investigação vai chegar aos responsáveis pelo não atendimento ao e-mail de uma indústria farmacéutica querendo vender vacina para o Brasil, e que agora já não tem mais essas vacinas para vender”, disse.

Toda essa desorganização, toda essa falta capacidade de logística e de entrega de equipamentos e insumos aos estados e municípios, isso tudo vai ficar claro mais na frente”, voltou a disparar.

Sob ataque virtual

Maia também parabenizou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o Instituto Butantan pela vacina. Destacou que o governador paulista chegou a sofrer ataques nas redes, por planejar e garantir a compra e a vacinação da população do estado, enquanto Jair Bolsonaro afirmava que não compraria a vacina e trabalhava contra a distribuição do imunizante no país. Para o parlamentar, Doria foi desrespeitado por conta da parceria com o laboratório chinês que produziu a CoronaVac.

“O presidente da República disse, várias vezes, que não compraria a vacina chinesa, que quem mandava era ele. Mas, na hora da verdade, a coragem não é tão grande. É corajoso até uma parte da história. Pelo menos, apesar do papelão do ministro Pazuello, querendo capturar o tema das vacinas, pelo menos eles compraram as vacinas e, para nossa felicidade, pelo menos, 6 milhões de brasileiros estarão imunizados nas próximas semanas. Espero que o Instituto Butantan comece uma produção maior, para que a gente possa, nos próximos meses, ter todos os brasileiros imunizados. Para que a gente possa voltar, minimamente, à nossa normalidade. Mas, principalmente, que a gente possa reduzir a muito pouco o número de vidas perdidas daqui para frente”, posicionou-se.

Questionado, especificamente, sobre um processo de impeachment, Maia destacou que é preciso ter cuidado para não retirar o foco do enfrentamento à pandemia. “Nesse momento, acho que, com tantas vidas perdidas pelo Brasil, e com o caso dramático de Manaus, acho que esse tem que ser o nosso foco. Não que o tema do impeachment não deva entrar na pauta, ou uma CPI para investigar tudo que aconteceu na área de saúde na pandemia. Mas, se nesse momento, se a gente tira o foco do enfrentamento à covid, a gente transfere para o parlamento uma crise política, e deixa de focar no principal, que é tentar salvar vidas”, argumentou.