Em uma campanha global, o Twitter suspendeu 70 mil perfis ligados a conteúdos extremistas, que espalham notícias falsas e organizam ataques difamatórios contra instituições públicas e de Estado. A maioria das contas pertencia a pessoas e organizações dos Estados Unidos, como o grupo QAnon — que atuou na invasão ao Capitólio, em Washington, e defende uma teoria conspiratória que coloca o presidente Donald Trump como comandante de um exército secreto que trava uma guerra subterrânea contra os pedófilos adoradores de satanás do alto escalão do governo, do mundo empresarial e da imprensa. Outras milhares de contas, contudo, estavam em português e atuavam no país, de acordo com informações obtidas com exclusividade pelo Correio. Os perfis suspensos, e que foram criados no Brasil, estavam ligados a grupos bolsonaristas e atuavam espalhando falsas acusações de fraudes nas eleições norte-americanas e brasileiras — sobretudo colocando em dúvida a urna eletrônica.
O conteúdo com as suspeitas infundadas era concentrado no processo eleitoral do Brasil. Além de colocar em dúvida pleitos anteriores, era usado para levantar suspeitas sobre a integridade das próximas eleições, como as de 2022, que escolherão o novo presidente da República. O Twitter, por meio da sua sede nos Estados Unidos, divulgou uma nota sobre a medida.
“Devido aos eventos violentos em Washington e ao aumento do risco de danos, começamos a suspender, permanentemente, milhares de contas que eram, principalmente, dedicadas ao compartilhamento de conteúdo QAnon”, informou a empresa. Ainda de acordo com a administração da rede social, as medidas foram tomadas em razão da proximidade da posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, em 20 de janeiro.
Alguns dos apoiadores e políticos ligados a Bolsonaro perceberam a queda no número de pessoas que os acompanham, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que disse ter perdido milhares de seguidores. O mesmo foi relatado por Filipe Martins, assessor especial do presidente. “Per di milhares de seguidores nas últimas 24 horas. Outros conservadores estão enfrentando o mesmo problema”, relatou ele, na rede social.
Evasão
Além dos bolsonaristas, ativistas, políticos de oposição e blogueiros também perderam seguidores. Neste caso, os perfis radicais eram usados para atacar profissionais de imprensa no Brasil e desqualificar críticas contra o governo. A ação do Twitter atingiu contas que pregavam discursos antivacina, de críticas ao governo chinês e punham em dúvida a eficácia do imunizante CoronaVac — produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
Procurado pelo Correio, o Twitter Brasil informou que conduz um trabalho contínuo contra contas que tentam manipular conversas. “Tudo o que a empresa tem para compartilhar sobre redução no número de seguidores (...) reitera o nosso trabalho contínuo de combate a contas que tentam manipular a conversa na plataforma, além das medidas específicas tomadas nos últimos dias”, diz a rede em nota.
“Tudo o que a empresa tem para compartilhar sobre redução no número de seguidores (...) reitera o nosso trabalho contínuo de combate a contas que tentam manipular a conversa na plataforma”
Trecho de nota do Twitter confirmando a reação contra os discursos de ódio, desinformação e mentiras na rede que administra