O anúncio da saída da Ford do Brasil, depois de 102 anos no país, reacendeu a discussão sobre a reforma tributária. Apesar de o tema ter retornado à pauta, o cientista político Rafael Favetti afirmou que a decisão da empresa está ligada a estratégias mercadológicas. “A Ford tem intenção de se voltar para carros de luxo e de grande porte”, disse, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria do Correio com a TV Brasília.
Para Favetti, nenhum subsídio seria suficiente para manter a companhia no país. “Se a Ford começasse a ter altos lucros nos carros que vende aqui, ela, evidentemente, teria adiado essa decisão, mas essa escolha já foi tomada há muito tempo.”
Favetti explicou, no entanto, que uma das principais dificuldades para as indústrias é um imposto estadual, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias). Questionado sobre as propostas de reforma tributária, em andamento no Congresso — uma na Câmara e outra no Senado —, o cientista político disse que o ideal seria a junção dos dois textos. Segundo ele, diariamente, há novas instruções normativas e falta previsibilidade para atrair investidores.
Também entrevistado, Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores, disse que a saída da Ford não ocorre totalmente por questões tributárias e subsídios. “O benefício fiscal para a Ford na Bahia era extremamente alto e até mesmo difícil de alguma empresa ganhar isso hoje. O que poderia ser feito seriam algumas mudanças estruturais para que houvesse maior competitividade da cadeia produtiva”, frisou.
Parente ressaltou que, em alguns setores, o Brasil consegue atrair bons investidores. “Um exemplo são os investimentos para as concessões, como a de saneamento básico e de energia elétrica, que sempre atraem bastante recursos”, destacou.
* Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa