CONJUNTURA

Na Câmara, Arthur Lira tenta descolar imagem do Planalto

Questionado sobre a chamada pauta de costumes do governo Bolsonaro, Lira enfatizou que não tem compromisso com o conteúdo das matérias e, sim, com a discussão na Câmara

Na corrida pela Presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) tem afirmado que não é nem será “tutelado”. A resposta foi dada, ontem, pelo deputado ao ser questionado sobre a influência do Planalto na pauta do Congresso, caso ele chegue ao comando da Casa. O político alagoano tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro na disputa pelo cargo.

Segundo Lira, o principal adversário dele na disputa, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), também é da base governista. No entanto, apenas ele vem sendo cobrado por isso. “O outro candidato é tão base do governo quanto eu. As duas (candidaturas) são da base do governo. O que me diferencia é que sou exclamação, sou franco e direto”, destacou. “A minha candidatura independe de apoio externo. Ela é construída na base, com os deputados (…). Então, que fique bem claro: eu não tenho dono, eu não tenho chefe, eu não tenho tutor, eu não tenho patrocinador.”

Questionado sobre a chamada pauta de costumes do governo Bolsonaro, Lira enfatizou que não tem compromisso com o conteúdo das matérias e, sim, com a discussão na Câmara. “Eu não tenho preconceito com nenhuma pauta. Como parlamentar, posso pensar o que eu quiser, como presidente da Câmara, não. Qualquer assunto que tenha o amadurecimento da população e maioria no colégio de líderes será discutido. O plenário é soberano, ele que vai decidir”, defendeu.

Além do apoio do Planalto e dos partidos do seu bloco, Lira tem apostado nos encontros informais com deputados das siglas que compõem o grupo de Baleia Rossi — capitaneado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) —, para tentar conquistar mais votos. Segundo o candidato, esses parlamentares não foram ouvidos pelos seus líderes partidários.

“Eu venho dizendo e repetindo: a nossa candidatura não é de cúpula partidária, nem de governadores e nem de líderes de bancadas. Eu não admito que um deputado que não foi ouvido pelo seu partido seja tratado como traidor”, argumentou.

Como exemplo, citou o PSL, que, formalmente, está no grupo de Baleia Rossi. No entanto, 32 dos 53 deputados do partido fecharam apoio ao bloco de Lira, mas Maia e seus aliados têm dito que a adesão é inócua, pois eles estão suspensos do partido.

Como exemplo de proximidade com deputados de diversas siglas, Lira esteve acompanhado dos deputados Celso Sabino (PSDB-PA) e Luis Miranda (DEM-DF) — os dois partidos compõem o bloco de Baleia Rossi. Ainda nas articulações partidárias, o candidato do Centrão esteve reunido, ontem, com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).

O encontro com o gestor goiano foi entendido como uma cisão no DEM, já que ele é do mesmo partido de Maia. Apesar de a ala do presidente da Câmara ser crítica a Bolsonaro, diversos integrantes defendem que o partido embarque no governo.

Bolsonaro

Enquanto Lira tenta se descolar do governo, Bolsonaro pede apoio da bancada ruralista à candidatura do político do PP. O presidente disse que o campo “nunca teve um tratamento tão justo e honesto” como em sua gestão, mas que parlamentares do setor têm demonstrado aval a Rossi.

“O que eu fiz para o campo? O campo está bombando. Todo esse pessoal do campo tem de estar comigo, pô. Esse é o mínimo de razoabilidade que eu peço para eles. Para a gente poder levar nossas pautas para frente”, destacou.

O presidente destacou que tem ajudado o setor, sem adotar o que chamou de “agenda xiita”. “Se eu fizesse a agenda ambiental xiita de outros governos, o agronegócio estaria no fundo do poço. O mínimo que eu peço para os parlamentares do campo, que eu tenho profunda admiração e apreço por eles, é que votem no nosso candidato para a Mesa (da Câmara).”

Bolsonaro disse, ainda, que gosta de Baleia Rossi, mas destacou que ele está coligado com o PT e outros partidos de esquerda.