O ministro da Saúde, Edu-ardo Pazuello, pediu o adiamento, para a próxima terça-feira, da reunião virtual que teria, hoje, com governadores, parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo do encontro é selar a data para a vacinação contra a covid-19 no Brasil. Pelo menos essa é a expectativa da classe política, que cobrará uma resposta definitiva do ministro por entender que o país já está muito atrasado e pode sofrer ainda mais, caso o governo federal não apresente logo um cronograma de aplicação das doses, a ser seguido em todo o território nacional.
Mas Pazuello pediu o adiamento do encontro porque ainda não recebeu os resultados dos pedidos de uso emergencial das vacinas protocolados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Os pedidos de uso emergencial foram apresentados pelo Instituto Butantan, que desenvolve a CoronaVac em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável, no Brasil, pelo imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca.
A aprovação dos pedidos permite que as vacinas sejam distribuídas para grupos prioritários antes do fim dos ensaios clínicos. Os governadores estão ansiosos pelo aval da Anvisa e projetam que, em um primeiro momento, o Brasil tenha à disposição oito milhões de doses, sendo seis milhões da CoronaVac e dois milhões da vacina de Oxford, entre janeiro e fevereiro.
Outra demanda do encontro será a definição sobre a logística de distribuição das vacinas. Os governantes esperam um começo simultâneo do processo de imunização em todo o país, com cada unidade da Federação recebendo um percentual de doses compatível com o tamanho da população, a fim de evitar disputas sobre qual estado aplicará as doses primeiro.
“Estou esperançoso que vamos sair desta agenda com uma data para iniciar a vacinação nas 27 unidades da Federação — dependendo da liberação da Anvisa — de 22 a 27 de janeiro”, afirmou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), presidente do Consórcio Nordeste e coordenador da temática de vacina no Fórum Nacional de Governadores.
Segundo Dias, o país pode ter, ao fim de abril, 25% da população vacinada, que são os brasileiros do grupo de risco contemplados na primeira etapa do plano nacional de imunização, apresentado pelo governo federal em dezembro: trabalhadores da saúde; idosos com mais de 75 anos, ou a partir de 60 anos que vivam em asilos; e a população indígena.
Até lá, há a previsão de o Butantan repassar 46 milhões de doses para o Ministério da Saúde e de a Fiocruz produzir 50 milhões de doses, que serão suficientes para imunizar 48 milhões de pessoas. Na opinião de Dias, a partir desse total, será possível “reduzir drasticamente o número de internações e óbitos”. “Em todo o Brasil, reduzir o número de doentes com covid-19, internações e óbitos é o nosso objetivo. A meta é atender a toda a demanda no plano nacional de imunização”, destacou.
Críticas
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), deve levar à reunião o apelo que fez, ontem, para que o pedido de uso emergencial da CoronaVac não seja menosprezado pela Anvisa. O Butantan afirmou ter entregue os dados necessários na semana passada, mas a agência disse que quase 54% das documentações ou não foram apresentadas ou estão pendentes de complementação.
Entre as informações que estão faltando, a Anvisa destacou não ter recebido todos os detalhes sobre os resultados da análise do estudo clínico demonstrando, pelo menos, 50% de eficácia da vacina, nem os dados que comprovem que a CoronaVac é segura ou capaz de controlar o aumento da covid-19.
“Postergar, adiar e burocratizar para servir a qual interesse, diante de um país vitimado pela covid e que já perdeu mais de 200 mil vidas? É hora de ter compaixão e colocar sentimento acima de qualquer discussão de ordem política, ideológica e partidária. O que difere a Fiocruz do Butantan? É uma instituição tão respeitada quanto. Por que uma vacina está ok?”, ponderou o tucano, ao detalhar a logística da imunização contra a covid-19 para o estado de São Paulo.
“Olhem as perdas que estamos tendo no Brasil. Mais de 60 países já estão vacinando sua população. E, aqui, estamos vacilando, em vez de estarmos vacinando. Não faz sentido. É o segundo país em número de mortes, o terceiro em casos, e não começamos a vacinar. Não é justificável”, reprovou. “A única vacina em solo brasileiro é a vacina do Butantan, com quase 11 milhões de doses aqui. De uma instituição com mais de 120 anos de existência”, enfatizou.
Cronograma mantido
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que mantém o plano estadual de vacinação contra a covid-19, previsto para começar no próximo dia 25, porque, entre outros motivos, o governo federal ainda não divulgou data para início da vacinação no país. Segundo informou o secretário estadual executivo de Saúde em São Paulo, Eduardo Ribeiro, o estado tem capacidade de distribuir 2 milhões de doses por semana. De acordo com Ribeiro, os 200 municípios mais populosos do estado deverão receber remessas do imunizante, enquanto os outros 445 poderão fazer a retirada das doses em centros de distribuição.