O presidente Jair Bolsonaro mergulhou de vez nas disputas eleitorais do Congresso, que ocorrem na próxima semana. Ontem, o chefe do Executivo pediu apoio de parte da bancada do PSL ao candidato dele para a Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Sem esconder o interesse pela eleição que vai definir o sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ), ele, agora, diz que vai “se Deus quiser, participar e influir na Presidência da Câmara”.
A reação de Bolsonaro surge num momento em que ele é, cada vez mais, criticado por parlamentares pela postura diante da pandemia do novo coronavírus. Tanto que, nesta semana, foram apresentados à Câmara novos pedidos de impeachment contra ele por suposto crime de responsabilidade na condução da pandemia. Preocupa o presidente o fato de que o principal rival de Lira na disputa, Baleia Rossi (MDB-SP), já ter prometido que vai analisar os processos, caso vença o pleito para chefiar a Casa.
Dessa forma, depois de passar meses dizendo que nunca interferiria nas eleições do Legislativo, Bolsonaro começou a se movimentar para que a Câmara seja comandada por alguém aliado do governo. Aproveitando a divisão interna de alguns partidos e frentes parlamentares, passou a estimular as dissidências e, ontem, reuniu-se com deputados do PSL para deixar clara a sua posição.
“Viemos fazer uma reunião com 30 parlamentares do PSL e vamos, se Deus quiser, participar, influir na Presidência da Câmara, com estes parlamentares, de modo que possamos ter um relacionamento pacífico e produtivo para o nosso Brasil”, afirmou o mandatário. “Esse pessoal que foi lá é o pessoal que está do nosso lado do PSL. Quero participar com eles nesta construção de para qual partido nós iremos a partir de março.”
De acordo com deputados que estiveram no encontro, Bolsonaro disse que Lira, dificilmente, será derrotado. Isso porque, o presidente aposta que muitos congressistas filiados a legendas que prometeram votar em Baleia Rossi, principalmente do DEM, devem trair o emedebista. Para estimular o PSL a escolher Lira, o chefe do Planalto instruiu a sigla a cobrar algum posto de importância na próxima Mesa Diretora, como a Vice-Presidência da Câmara.
Segundo Bibo Nunes (PSL-RS), o partido tentará emplacar Major Vitor Hugo (PSL-GO), ex-líder do governo na Câmara, como vice na chapa de Lira. Ele ressaltou que o colega “será o vice-presidente, merecidamente, para o bem da Câmara e por bem dos aliados do presidente”. “Vamos tentar pegar a primeira vice com o Major Vitor Hugo. Vamos tentar, pois somos 36 deputados do PSL. A maioria”, frisou.
Por sua vez, Vitor Hugo destacou que o PSL deve apoiar Lira em massa. “Hoje, temos uma lista consolidada de 36 deputados e temos notícia de que vários outros, que não assinaram a lista, também apoiam o deputado Lira”, disse. “E nós imaginamos, nas nossas contas, que podemos chegar até próximo de 50 votos dentro do PSL para ele, independentemente de terem assinado a lista formalmente trazendo para o bloco do Arthur o PSL.”
O parlamentar entende que a vitória do líder do Centrão pode facilitar a análise de pautas relevantes para o governo, sobretudo as que envolvem a agenda de costumes. Para ele, Maia atrapalhou os interesses do Planalto.
“A posição do PSL está consolidada em torno do Arthur Lira. Isso vai ser muito bom para o país e para as pautas que precisamos avançar, como a reforma tributária e a administrativa, que ficaram paradas na Presidência atual, que muito prejudicou o nosso país”, afirmou.
Reforma ministerial
Na articulação por Lira, Bolsonaro tem feito promessas de renovar a Esplanada para acomodar as indicações de parlamentares que votarem no candidato do Executivo. As pastas com mais chances de sofrerem alterações são a da Cidadania e a da Secretaria de Governo, comandadas por Onyx Lorenzoni e Luiz Eduardo Ramos, respectivamente.
Mas outras estão no radar do Centrão. Os ministérios da Saúde, de Eduardo Pazuello, e das Relações Exteriores, de Ernesto Araújo, são cobiçados pelos partidos devido à pressão que o Planalto tem sofrido para retirar os dois ministros.
O Desenvolvimento Regional e a Agricultura também podem entrar na negociação. A primeira pasta é desejada por congressistas devido à importância para o governo, visto ser um ministério que define o destino de boa parte das emendas parlamentares. Já a segunda faz parte das conversas porque seria uma forma de Bolsonaro agradar a bancada ruralista. Recentemente, o presidente reclamou da preferência de alguns líderes da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) por Baleia Rossi. Dias depois, parte do grupo tomou café da manhã com o mandatário e prometeu apoiar Lira.
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