Congresso

Maia acusa Bolsonaro de querer transformar Câmara em anexo do Planalto

A crítica ocorreu após fala de Bolsonaro, que disse que vai, "se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara". Maia afirmou que os Poderes precisam ser independentes

Luiz Calcagno
postado em 27/01/2021 19:52

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) fez críticas à declaração de Jair Bolsonaro, que afirmou que o chefe do Executivo tem a intenção de influir na presidência da Câmara. Em uma live para a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), Bolsonaro afirmou que vai, “se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara”. Para Maia, o mandatário quer transformar o parlamento em um puxadinho do Palácio do Planalto.

De acordo com Bolsonaro, a intromissão seria para “ ter um relacionamento pacífico e produtivo” para o Brasil. O relacionamento conturbado com o Legislativo, porém, sempre foi uma marca do próprio presidente da República, que chegou até a participar de manifestações antidemocráticas que pediam o fechamento do Congresso.

“É um alerta aos deputados e deputadas, que a intenção do presidente é transformar o parlamento em um anexo do Palácio do Planalto, o que enfraquece o mandato de cada deputado e o protagonismo da Câmara nos debates com a sociedade. Precisamos de um candidato que dialogue, que tenha equilíbrio, como o Baleia, O Baleia não é oposição”, respondeu Rodrigo Maia na tarde desta quarta-feira (27/1).

"Outro poder"

Ele seguiu insistindo que “o parlamento é outro poder, e sendo outro poder, cada mandato se dá com a liberdade que o presidente da Câmara tem para definir a pauta, junto com a sociedade, o governo, mas, principalmente os 513 deputados e deputadas”. Maia também criticou a fora com que o governo está lidando com as eleições. Disse que o Executivo não conseguirá cumprir as promessas de emendas que está fazendo por apoio ao candidato Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão, e que só se preocupou em construir uma base para conquistar a presidência.

“Uma coisa é a formação de uma base para governar com os partidos que fazem parte dessa base. Outra, é ser minoria e no processo eleitoral tentar construir uma maioria baseada em troca de cargos e emendas. Se tenho um bloco de 300 deputados de 10 partidos na minha base de governo, é natural que eles participem do governo com uma participação maior que os da oposição, indicando, dando ideias. Outra coisa é ser minoritário e tentar formar uma maioria na base da pressão, da ameaça e da troca de emendas”, criticou Maia.

O presidente da Câmara afirmou, ainda, que o governo teria que levantar R$ 20 bilhões para cumprir as promessas de emendas parlamentares. Trata-se de uma estratégia de alto risco fiscal, com a possibilidade  de romper o teto de gastos logo nos primeiros meses. “Cada dia que passa, as pessoas vão vendo que serão enganadas nesse toma lá dá cá. Está abrindo cadastro em três ministérios. Dois é natural. Mas MDR nunca abriu cadastro em janeiro. É para gerar uma expectativa. Vai ser difícil o que prometeram, encaixar no orçamento primário. Vai ser um problema grande se eles vencerem a eleição. R$ 20 bilhões de extra é uma promessa que o governo não tem nenhuma condição de cumprir”, previu o deputado demista.

“Além do toma lá dá cá, é uma peça de ficção, achar que o parlamento vai estar disposto a isso. O parlamento está disposto a participar do governo. A liberar recursos para suas bases. Vencendo ou perdendo, não vai dar certo. Não há espaço fiscal nem de R$ 10 bi, R$ 15 bi, ou R$ 20 bi, para cumprir uma promessa em um ano que você tem de rombo no teto de gastos uma previsão de R$ 30 bi. Cortando aposentaria, R$ 20 bi, auxílio emergencial no teto, mais R$ 20 bi, e mais as emenda prometidas, tudo dá R$ 60 bi. Como cortar para encaixar nesse orçamento, que R$ 1,4 trilhão é de pessoal e R$ 80 bi é custeio discricionário, o que já explode o teto?”, questionou.

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