Os gastos alimentícios do governo federal somaram mais de R$ 1,8 bilhão em 2020. Além dos R$ 15 milhões gastos com leite condensado, R$ 2,2 milhões pagos em chicletes e R$ 32,7 milhões em pizza e refrigerante. Os dados foram expostos em reportagem do portal Metrópoles, no último dia 24 de janeiro. O total de gastos em alimentos em 2020 é 20% maior que em 2019.
"Em meio a uma grave crise econômica e sanitária, o aumento de gastos é absolutamente preocupante, tanto pelo acréscimo de despesas como pelo caráter supérfluo de muitos dos gêneros alimentícios mencionados", diz um trecho da representação. "Solicitei informações sobre esse "apagão" (no Portal da Transparência). Isso só aumenta a suspeita de problemas sérios nestes gastos. O pior é saber que este tipo de despesa teve um aumento de 20% em 2020, ano de pandemia e home office", afirmou o senador Alessandro Viera, ao Estadão, sobre a queda do site de prestação de contas, só solucionada na manhã de hoje.
Representantes do PSOL, o deputado David Miranda (RJ) e as deputadas Fernanda Melchionna (RS), Sâmia Bomfim (SP) e Vivi Reis (PA) protocolaram uma ação para que o procurador-geral da República, Augusto Aras, abra investigação sobre os gastos de R$ 1,8 bilhão.
Governo gastou mais com alimentos que com Inpe e ICMBio
Algumas comparações mostram o tamanho do gasto do governo federal com alimentos. A mais evidenciada nas redes foi a do montante destinado ao fomento a projetos e pesquisa do CNPq, agência de apoio à pesquisa científica no Brasil, cujo orçamento previsto para 2021 é de R$ 22 milhões.
Apenas o montante pago pelo leite condensado é cinco vezes mais que tudo que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) recebeu para fazer o monitoramento por satélite de toda a Amazônia, Pantanal e demais regiões do País - R$ 3,2 milhões no mesmo período, segundo dados levantados pela consultoria Rubrica.
Nos últimos dois anos, o Inpe - principal órgão federal responsável pelas pesquisas espaciais e monitoramento -, o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) tiveram seus orçamentos reduzidos, o que comprometeu a capacidade de o governo realizar ações estruturais de proteção, fiscalização e combate do desmatamento nas florestas nacionais - a Amazônia registrou volume recorde de queimadas no ano passado.
Juntos, os recursos do Inpe, ICMBio e o programa do CNPq de fomento a projetos e pesquisas teriam no período de um ano, entre as operações de 2020 ou o previsto para 2021, menos recursos públicos do que o utilizado em 2020 para adquirir leite condensado e barrinhas de cereal para o governo.
Nesta quarta-feira, o filho do presidente Jair Bolsonaro e deputado estadual Eduardo Bolsonaro defendeu os gastos com alimentos, particularmente no que diz respeito ao item mais comentado pela população, o leite condensado, justificando que o material foi, em sua maioria, para o Ministério da Defesa. "É um produto calórico indicado a quem faz muitas atividades físicas", alegou.
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