A campanha eleitoral para as Presidências da Câmara e do Senado aproxima-se da reta final, e o presidente Jair Bolsonaro tem mantido diálogos frequentes com congressistas em busca de mais votos para os dois candidatos apoiados por ele: o deputado Arthur Lira (PP-AL) e o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Mesmo tendo dito, meses atrás, que não tentaria interferir nas eleições do Legislativo, o mandatário tem estimulado partidos e frentes parlamentares a seguirem a orientação do governo. Em contrapartida, ele está sendo sondado sobre a possibilidade de oferecer cargos na administração federal e recursos.
Os cofres, por sinal, estão escancarados. Em dezembro de 2020, já com o Planalto envolvido nas eleições, o Tesouro liberou R$ 550 milhões em emendas parlamentares. Com isso, o total de emendas pagas passou de R$ 4,2 bilhões, em 2019, para R$ 6,7 bilhões no ano passado.
As negociações também envolvem cargos em ministérios e órgãos de segundo e terceiro escalões. Algumas das pastas mais propensas a acomodar as indicações de parlamentares são a do Desenvolvimento Regional, da Economia e da Infraestrutura. Há duas semanas, a exoneração do superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Sergipe, foi um sinal das mudanças que podem ocorrer. Victor Alexandre Sande Santos, que assumiu o posto em julho de 2020 por indicação do deputado Fabio Reis (MDB-SE), foi retirado do cargo — o emedebista deve apoiar Baleia Rossi (MDB-SP) para a disputa da Câmara.
Outra retaliação do governo será ao deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ). Na semana passada, depois de a legenda anunciar que votará em Rossi, o parlamentar foi comunicado pelo presidente nacional do partido, deputado Paulinho da Força (SP), que o Executivo deve exonerar três pessoas indicadas por ele para cargos na administração federal: duas para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e uma para a superintendência do Ministério da Agricultura no Rio de Janeiro.
E é justamente na Casa comandada atualmente por Rodrigo Maia (DEM-RJ) que Bolsonaro tem apelado por mais votos. Se os partidos têm interesse em assumir funções no governo, o chefe do Executivo também conta com as próprias ambições: o desejo de tocar a agenda de costumes e, sobretudo, evitar um eventual processo de impeachment.
Na campanha por Lira, Bolsonaro já pediu, publicamente, que a bancada ruralista da Câmara vote no líder do Centrão e, na sexta-feira passada, recebeu cerca de 20 deputados que integram a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para um café da manhã no Palácio da Alvorada. O grupo conta com 228 integrantes e está rachado para as eleições do Congresso. Enquanto o presidente Sergio Souza (MDB-PR) já disse que apoia Baleia, alguns dos deputados que estiveram no encontro com Bolsonaro declararam ser favoráveis a Lira.
Na avaliação de analistas políticos, será difícil para Bolsonaro eximir-se de contrapartidas aos parlamentares por conta dos pedidos de votos aos candidatos que ele tem preferência. O cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, lembra que “hoje, o governo tem no Centrão um fiador, inclusive, tentando evitar o prosseguimento de processos de impeachment” e que “sem dúvida, a conta será apresentada, pois não há possibilidade de apoio sem troca”.
“São negociações realizadas com cada deputado, eles chegam com demandas muito distintas. Vai depender do volume de apoio que um deputado ou um partido dará ao presidente. Pode ser em forma de verbas para uma determinada região, para um projeto em um município que é a base eleitoral de um deputado”, observa. “Podem ser cargos no primeiro e segundo escalões ou mesmo pela indicação de um ministro por parte de um grupo ou partido numa possível reforma ministerial.”
Adriano Oliveira, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco, reforça que o mandatário não terá como fugir de uma reforma ministerial. Cargos em diretorias de estatais, como o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste, também podem entrar na negociação. “O Centrão está de olho em bons ministérios, com maiores verbas. Mas, claro que o presidente aguardará o resultado para discutir essa dança das cadeiras”, opina.
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