POLÍTICA

"Forças Armadas são a grande base do governo", defende Bolsonaro

Presidente diz que Marinha, Exército e Aeronáutica representam o alicerce da "missão" dele à frente do país e que as Forças Armadas "devem lealdade absoluta ao seu povo"

Ingrid Soares
Augusto Fernandes
postado em 21/01/2021 06:00
 (crédito: AFP / EVARISTO SA)
(crédito: AFP / EVARISTO SA)

Dias depois de sugerir que cabem às Forças Armadas decidir se o país vive em uma democracia ou em uma ditadura, o presidente Jair Bolsonaro mudou o tom para tentar amenizar o mal-estar criado com os militares. Ontem, na solenidade em alusão aos 80 anos do Comando da Aeronáutica, em Brasília, ele disse que as três Forças são a base do seu governo e que elas “devem lealdade absoluta ao seu povo”.

“Nós, militares das Forças Armadas, seguimos o norte indicado pela nossa população. Nós nos orgulhamos disso, eu me orgulho das Forças Armadas e assim diz o nosso povo em todos os momentos que é chamado a falar sobre elas”, afirmou. O presidente também negou preocupação com as críticas que tem recebido, pois, segundo disse, mostram apenas que ele está no “caminho certo”.
“Quando somos atacados, dependendo de onde vêm esses fogos, tenho certeza de que estamos no caminho certo. Eu prego e zelo pela união de todos, pelo entendimento, pela paz e pela harmonia, mas os poucos setores que teimam em remar em sentido contrário, tenham certeza: vocês perderão”, disparou. “Hoje, nós temos um governo que pensa no seu Brasil como um todo, e a grande base nossa para cumprir essa missão é ou são a nossa Marinha, o nosso Exército e a nossa Aeronáutica.”

Por fim, Bolsonaro destacou que “o Brasil vem experimentando mudança ao longo dos últimos dois anos” e que uma das mais importantes é que, agora, “temos um presidente da República que, com seu Estado-Maior, ministros acreditam em Deus, respeitam os seus militares, fato raro nas últimas três décadas em nosso país”.

Críticas

As menções de Bolsonaro à atuação das Forças Armadas não agradaram à classe política, que viu, nos posicionamentos dele, uma forma de se esquivar das críticas sofridas pelo governo nos últimos dias, em especial, pela falta de ações para garantir a importação de vacinas contra a covid-19 e da matéria-prima para a produção dos imunizantes em solo nacional.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, afirmou que “Bolsonaro não representa a esmagadora maioria das Forças Armadas brasileiras” e que o presidente não deveria usar o nome dos militares em vão. “Mais uma vez, o profeta da ignorância tenta desviar a atenção da sua incompetência, do seu despreparo, da sua omissão e da sua corresponsabilidade na morte de mais de 210 mil brasileiros pela covid”, reprovou. “Ele não combateu o que devia combater, não estimulou a utilização de máscaras, não seguiu a ciência, combateu a vacina, e agora, para desviar a sua incompetência, vendo que a vacina foi aprovada com independência pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ele tenta falar da democracia e da garantia dessa democracia pelos militares”, acrescentou.

O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da legenda na Câmara, seguiu o mesmo caminho: “Pressionado por sua péssima gestão, Bolsonaro responde ameaçando a democracia. O que ele não responde é: quando todos seremos vacinados? Quando teremos um ministro da Saúde de verdade?”.
Para Adriano Oliveira, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco, as sucessivas afirmações de Bolsonaro sobre as Forças Armadas são um problema, pois o presidente coloca em dúvida a importância das instituições.

“Quem nos garante a democracia é a Constituição, e as Forças Armadas estão sob a guarda dela. Na frase que ele cita que é o povo que diz o que os militares devem fazer, ele está enganado. É a nossa lei”, enfatizou. “Bolsonaro flerta com o autoritarismo, mas é combatido pela resistência do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e da imprensa. Mas, não há dúvidas de que ele deseja um estado de defesa.”

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação