Encabeçado pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena no Fórum de Governadores a temática Estratégia para vacina contra covid-19, grupo de governadores protocolou nesta quarta (20/1) um ofício ao presidente Jair Bolsonaro solicitando um diálogo diplomático entre o governo brasileiro e a China, para assegurar a importação de insumos necessários para a produção de imunizantes.
Subscrita por todos os governadores, a carta pede, ainda, que o governo se movimente para negociar com a Índia, de onde o Brasil aguarda duas milhões de doses da vacina de Oxford/Astrazeneca, produzida pelo Instituto Serum. Na terça (19), o governo indiano anunciou o início da exportação dos primeiros imunizantes, mas não incluiu o Brasil na lista.
Os governadores frisam o pedido de que seja avaliada a “possibilidade de estabelecimento de diálogo diplomático com os governos dos países provedores dos referidos insumos, sobretudo China e Índia, para assegurar a continuidade do processo de imunização no país”.
“A carta faz um apelo, e é um apelo em sintonia com o povo brasileiro, para que o presidente da República, com toda a diplomacia brasileira, governadores, ex-presidentes, quem puder ajudar, para que a gente possa ter esse diálogo com o governo da China, da Índia, da Rússia, para garantir que o Brasil tenha a garantia do cumprimento do cronograma para entrega do IFA, as condições de vacina tanto da Astrazeneca, Coronavac e Sputnik”, disse Wellington Dias.
Atraso
A relação conflituosa criada com a China pelo presidente Jair Bolsonaro e pessoas do seu entorno, como seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e o próprio ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, dificultam o envio dos insumos necessários para a fabricação das vacinas no Brasil. Tanto o Instituto Butantan quanto a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) dependem do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para produzir as doses de imunizantes aqui no Brasil.
Sem uma previsão do envio do insumo, a Fiocruz informou que irá atrasar a entrega de doses da vacina de Oxford/Astrazeneca de fevereiro para março deste ano, em ofício enviado ao Ministério Público Federal (MPF) na terça-feira (19).
Conflitos
Ao longo dos últimos dois anos, não foram poucos os ataques do governo à China. Durante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro disse por diversas vezes, categoricamente, que não iria adquirir a “vacina chinesa”, colocando a segurança do imunizante sempre em questionamento. Em um episódio mais recente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro acusou a China de espionagem via 5G, e recebeu uma resposta da embaixada da China. O Itamaraty resolveu interferir, chamando a resposta chinesa de ofensiva e desrespeitosa.
O próprio chanceler não se furtou de fazer publicações mostrando suas posições em relação ao gigante asiático. Em abril do ano passado, ele publicou um texto em um blog pessoal chamando o coronavírus de “comunavírus”, dizendo se tratar de “projeto globalista" como o "novo caminho do comunismo". Agora, o país não deve contar com a participação do chanceler para resolver o imbróglio de importação da matéria-prima vinda da China.
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