Após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), dar início à vacinação no estado, no fim de semana, antecipando-se ao governo federal, o presidente Jair Bolsonaro quebrou o silêncio e afirmou que a CoronaVac, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é a “vacina do Brasil” e “não de nenhum governador”. A crítica foi uma indireta ao tucano, o principal opositor político dele.
Mesmo assim, Bolsonaro já havia chamado a CoronaVac de “vacina chinesa de João Doria”, tendo criticado o imunizante ao longo de toda a pandemia. Ele chegou a dizer que não ia adquirir o produto, em dezembro do ano passado, quando o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou o protocolo de aquisição de 46 milhões de doses.
Apesar da aprovação de uso emergencial da vacina, Bolsonaro voltou a colocar em dúvida a eficácia do imunizante. A apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo disse que “se jogar uma moedinha para cima, é 50% de eficácia” e que a vacina “é para quem não pegou covid-19 ainda”. “No que depender de mim, não será obrigatória. É uma vacina emergencial, 50% de eficácia, algo que ninguém sabe ainda se teremos efeitos colaterais ou não”, disparou.
“Tratamento precoce”
O presidente também voltou a defender o que chamou de tratamento precoce contra a doença, com o uso de ivermectina, hidroxicloroquina e nitazoxanida, descartado veementemente pela Anvisa. Os medicamentos, no entanto, não têm eficácia contra o novo coronavírus.
“Apesar da vacina... Apesar, não. A Anvisa aprovou, não tem o que discutir mais. Agora, havendo disponibilidade no mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos também, que era para ter chegado a vacina aqui”, afirmou. “Não desistam do tratamento precoce. Não desistam. A vacina é para quem não pegou ainda. Então, está liberada a aplicação no Brasil. E a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador, não.”
No dia 15, um post de Bolsonaro, no Twitter, falando sobre o assunto foi marcado como fake news pela plataforma. Cientistas já concluíram que ainda não existe tratamento precoce com medicamentos para a covid-19.
O infectologista José David Urbaez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, reforçou a inexistência de medicamentos capazes de prevenir a covid-19. “Não existe tratamento precoce. O uso dessas medicações em regimes de tratamento precoce faz parte de um dispositivo negacionista, sem base científica. Essa recomendação beira ao criminoso, pois engana pessoas vulneráveis em momento de medo”, frisou. O também infectologista Leandro Machado disse que Bolsonaro deveria aconselhar a população a fazer uso de medidas que funcionam. “Incentivar a vacinar, usar máscara, adotar o isolamento. Ele dá esperança para a população de uma medida que não funciona. O que realmente funciona, não faz.”
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