O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez, ontem, uma nova rodada de reuniões para tentar definir quem será seu candidato na disputa pela presidência da Casa no próximo ano. Desta vez, o democrata concentrou as negociações com os partidos de esquerda, tidos como decisórios nos acordos para essa disputa.
Em um almoço na Residência Oficial, Maia reuniu, por exemplo, os presidentes do PT, Gleisi Hoffmann; do PSB, Carlos Siqueira; e do PDT, Carlos Lupi. Ciro Gomes (PDT) também esteve presente, assim como os deputados Orlando Silva e Perpétua Almeida, ambos do PCdoB. Para apoiarem o candidato do atual presidente da Câmara, os representantes dessas legendas cobraram maior participação nas comissões da Casa e a entrega de relatoria em projetos importantes para o próximo ano.
Segundo relatos de participantes do almoço, o compromisso é formar uma “frente ampla contra o candidato do Bolsonaro”. Desde a última semana, o líder do Centrão e candidato apoiado pelo Palácio do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), vem tentando costurar acordos que desfavoreçam os aliados de Maia.
No entanto, o grupo do presidente da Câmara, mais uma vez, não conseguiu chegar a um consenso sobre quem será o escolhido para enfrentar Lira. Estão no páreo os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP). Maia disse que o nome deve ser escolhido até sexta-feira. “A eleição é em fevereiro, não é isso? Como eu disse, não é ruim o presidente estar falando sozinho, neste momento, sobre Câmara dos Deputados. Tem nos ajudado um pouco na demonstração do campo em que estamos e o que nós precisamos construir para o futuro da nossa democracia”, afirmou, em entrevista coletiva.
O deputado confirmou que o grupo está entre Baleia Rossi e de Aguinaldo Ribeiro. Questionado sobre as chances de Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos e que deixou o grupo, respondeu: “Eu não descarto ninguém, mas, hoje, dentro do bloco, existem esses dois nomes. Nossa decisão foi sempre discutir baseado em nomes que estão dentro do nosso bloco. Desde a semana passada, continuamos conversando com todos. É claro, se Marcos Pereira quiser dialogar, estamos abertos”.
Para Maia, a construção de uma candidatura com outros campos políticos sempre gera necessidade de mais diálogo. “Nós não temos pressa em fechar um nome se esse atraso representar a possibilidade de atrairmos mais partidos, mais apoio na construção de um campo de defesa da Câmara livre e do fortalecimento da instituição Câmara dos Deputados. Então, esse atraso não me incomoda”, justificou.
De acordo com Maia, decisões, quando coletivas e não impostas, são fruto de “uma construção através do diálogo”. “Estou muito confiante de que a Câmara, no dia 2 de fevereiro, continuará independente, livre de qualquer interferência de outra instituição e, principalmente, livre de uma agenda atrasada, retrógrada, que não vai levar o Brasil a lugar nenhum”, criticou. Em um ataque indireto ao deputado Arthur Lira, Maia afirmou que o governo federal não pode transformar a Câmara no seu “puxadinho”. “Não vamos abrir mão, de jeito nenhum, da independência nem de impor limites a um governo que quer atropelar e impor sua posição para a sociedade brasileira e o Parlamento. Veja aí o caso da vacina, que cada dia é uma novidade e uma perplexidade maior da sociedade com este governo.”
Apoio
PDT, PSB e PCdoB sinalizaram que vão apoiar o nome escolhido por Maia já no primeiro turno da eleição. Essas bancadas vão se juntar ao grupo que conta com DEM, PSDB, MDB, Cidadania, PSL e PV. O PSol, que tem 10 parlamentares, rejeitou apoiar qualquer candidatura de Maia. O partido vai lançar um nome na disputa como forma de “marcar posição”. De acordo com Ivan Valente (PSol-SP), um apoio da bancada ao postulante do atual presidente da Casa só ocorrerá em um possível segundo turno contra Arthur Lira.
O PT terá uma nova rodada, hoje, para definir uma posição, mas defendia que uma eventual adesão ao grupo de Maia contasse com a participação do PSol para que toda a oposição marchasse numa só candidatura. O presidente da Câmara aguarda esse posicionamento do PT para chancelar o seu candidato. A eleição para o comando da Casa ocorre em 1º de fevereiro do próximo ano.
No encontro com Maia, os representantes da oposição indicaram que Aguinaldo Ribeiro contava com mais simpatia desses partidos do que Baleia Rossi. Na avaliação desses integrantes, o parlamentar paraibano tem um perfil mais conciliador e simpático às demandas do bloco.
No entanto, o PP, partido do próprio Aguinaldo Ribeiro, tem sido o maior entrave nas negociações com o grupo de Maia. A legenda é a mesma de Arthur Lira, e uma possível candidatura de Ribeiro poderia virar alvo de retaliação. O regimento permite candidaturas avulsas por parte dos deputados.
Para tentar resolver o entrave, o bloco de Maia estuda um acordo em que Ribeiro se comprometa a se filiar ao PSL quando abrir a janela de transferência partidária. Hoje, o partido que abrigou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência está dividido entre a ala bolsonarista e os aliados do presidente da legenda, Luciano Bivar (PE). Esse último grupo teme uma debandada de parlamentares no próximo ano. Por isso, caso Ribeiro se garanta no comando da Câmara, o partido poderia ter mais força de negociação. (Com Agência Estado)