O presidente Jair Bolsonaro comunicou, ontem, ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que ele seria demitido do cargo. A exoneração já vinha sendo ventilada, há algum tempo, e o motivo seria a disputa pelo comando da Presidência da Câmara dos Deputados, mas a dispensa só deveria ocorrer no próximo ano.
Para substituí-lo, o chefe do Executivo escolheu Gilson Machado, atual presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur). A saída de Álvaro Antônio deve constar na edição de hoje do Diário Oficial da União. Ainda ontem, Machado esteve com Bolsonaro no Palácio do Planalto, para tratar do assunto.
Ele, entretanto, deve ficar no cargo de ministro do Turismo de forma temporária, até que ocorra a próxima reforma ministerial, marcada para o começo do próximo ano. A ideia do Planalto é negociar com aliados do Congresso um nome para o posto e, com isso, garantir mais apoio a favor do nome de Arthur Lira (PP-AL) para Presidência da Câmara. O líder do Centrão confirmou, ontem, a sua candidatura, e conta com articulação do Executivo para se eleger.
Apesar do fato de que a exoneração de Álvaro Antônio só estava prevista para 2021, a situação do ministro tornou-se insustentável depois que ele trocou farpas com o chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, em um grupo de ministros no WhatsApp. Em uma das mensagens, Álvaro Antônio chamou o colega de “traíra” e disse que o general “de forma covarde” ataca “sem parar” os apoiadores conservadores do presidente.
Em seguida, ele ressaltou que Ramos deveria ter aprendido que não se abandona um “companheiro de guerra aos inimigos” e que não se pode “atirar na cabeça de um aliado”. No fim, acusou o chefe da articulação do governo de “conspirar” para tirá-lo do cargo. As mensagens irritaram Bolsonaro, que optou por demiti-lo.
Nem o Ministério do Turismo nem o Planalto confirmaram a exoneração oficialmente. Entretanto, o filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi às redes sociais parabenizar o futuro novo titular da pasta. “Desejo boa sorte a Gilson Machado, que vinha fazendo bom trabalho como presidente da Embratur e, agora, se torna novo ministro do Turismo”, escreveu.
Aliado e denunciado
Aliado de Bolsonaro desde os tempos em que o presidente era deputado federal, Marcelo Álvaro Antônio comandava o Ministério do Turismo desde o começo do governo. O chefe da pasta estava com o, agora, chefe do Executivo, quando ele sofreu o atentado a faca durante ato de campanha, em Juiz de Fora (MG).
Eleito deputado federal pelo PSL, Álvaro Antônio foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público Eleitoral de Minas Gerais por crimes relacionados à apresentação de candidaturas de fachada do partido nas eleições de 2018. Segundo o MP, na condição de presidente estadual da legenda, ele participou da inscrição de candidaturas laranjas de mulheres para permitir o desvio de recursos do fundo eleitoral.
Após o indiciamento de Álvaro Antônio pelo MP, o caso deixou o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas Gerais e foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa do ministro pede a anulação do inquérito, alegando que ele foi investigado de forma ilegal pelas autoridades mineiras, já que tem foro especial. O processo é relatado pelo ministro Gilmar Mendes.
“Harmonia”
Em evento no Planalto, na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse haver harmonia entre os ministros. “Cada ministro tem a sua atribuição, vivemos em harmonia e nenhum ultrapassa os seus limites, porque só assim podemos manter a hierarquia e o bom andamento do governo”, destacou.
O fator Luiz Eduardo Ramos
Esta não é a primeira vez que o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, teve o nome envolvido em hostilidades com outros integrantes do governo. Em outubro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atacou o general nas redes sociais e pediu para que ele parasse com a “postura de Maria Fofoca”. A publicação do titular do Meio Ambiente acompanhou a reportagem do jornal O Globo, que dizia que Salles estaria “esticando a corda com a ala militar do governo” ao afirmar que brigadistas do Ibama cruzariam os braços por falta de orçamento da pasta. Salles teria informações de que Ramos trabalhava para minar a atuação dele no ministério. O episódio expôs insatisfações sobre a atuação de Ramos, que há meses passou a nutrir fama de “vazador” de informações contra colegas, motivo pelo qual ganhou o apelido de Maria Fofoca. A ala ideológica do governo também reclamou de Ramos, pois viu, nele, um dos principais responsáveis pela aproximação de Bolsonaro com o Centrão. O histórico do general inclui pressão sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sobre o ex-líder do governo na Câmara Major Vitor Hugo (PSL-GO). Ele também teria incomodado a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, por causa de nomeações que fez na pasta.